sexta-feira, abril 07, 2006

“Portugal dificulta a investigação clínica”

Diário Económico 16.03.06

Entrevista a José Almeida Bastos, director-geral da Merck

O director-geral da Merck acredita que o mercado português não tem dimensão que permita às empresas gerarem recursos sem apoios estrangeiros.

A indústria farmacêutica vive da novidade, da inovação, da investigação. A Merck Sharp & Dohme tem investido muito nesta área em Portugal?
A Merck investe cerca de três mil milhões de euros por ano em actividades de investigação e desenvolvimento. Actualmente, temos à volta de 40 novos produtos em investigação, entre medicamentos e vacinas, nas áreas cardiovascular, sistema nervoso central, oncologia, doenças infecciosas, doenças reumáticas e doenças metabólicas. Em Portugal, o nosso departamento de investigação desenvolve, em conjunto com investigadores portugueses, diversos ensaios clínicos, estando a investigar um produto para a diabetes, numa nova classe terapêutica, que prevemos colocar no mercado dentro de dois anos.

Têm centros de pesquisa e investigação?
Sim. Temos centros de investigação nos EUA, e espalhados pelo mundo e departamentos nas subsidiárias, como em Portugal, que conduzem a realização das fases clínicas da investigação.

Não têm apoio do Estado?
A investigação que desenvolvemos é totalmente suportada por recursos próprios. Aliás, uma percentagem extremamente elevada da investigação biomédica efectuada a nível global é assegurada pela indústria farmacêutica.

Como caracteriza o mercado português no que toca a investimentos em inovação e tecnologia?
Portugal ainda não é visto como um país ideal para fazer investigação clínica. Não somos conhecidos por termos tecnologia de ponta, pelo que o investimento internacional ainda é muito baixo.

Mas acha possível criar condições para competir com outros países?
É difícil para uma empresa farmacêutica de base exclusivamente nacional conseguir competir com empresas multinacionais. O nosso mercado não tem uma dimensão que permita às empresas gerarem recursos que suportem o desenvolvimento de novos medicamentos, mas acredito que uma estratégia de fusões e aquisições melhorasse a situação. Por outro lado, o desenvolvimento de parcerias com entidades internacionais é também um factor determinante para o sucesso na investigação de novos medicamentos. Para sermos fortes em investigação temos que ter um sistema de ensino que funcione e que produza muitos cientistas de qualidade, e temos que ter uma organização estrutural que nos permita mantê-los em Portugal, o que não acontece. Temos que acabar com os entraves burocráticos à realização de investigação clínica. E para isso, é urgente agilizar processos e comprometer as pessoas com a investigação.

Outro problema é o tempo que demora a decisão que medeia o período entre a aprovação do medicamento e a sua entrada no mercado.
Sim. O atraso no acesso aos medicamentos inovadores verificado na Europa é uma das situações que mais tem preocupado os diversos intervenientes do sector. E isso deve-se, em grande parte, à intervenção excessiva dos governos, o que prejudica a competitividade da indústria farmacêutica europeia e limita aos doentes o acesso aos novos medicamentos.

Esta indústria aposta forte na protecção de uma marca original. Como funcionam as patentes ?
As patentes são fundamentais para qualquer actividade onde a inovação seja importante, protegendo a propriedade intelectual das novas invenções. Por isso, tem que se assegurar que todo este esforço beneficia de uma protecção que permita gerar [muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito] retorno para nova investigação, e que não seja passível de se “copiar” durante alguns anos.

Como encara a evolução do mercado dos genéricos?
De forma muito positiva. O nosso modelo de negócio funciona tendo em conta a existência dos genéricos. Consideramos que, se for respeitada a propriedade intelectual dos produtos inovadores, os medicamentos genéricos podem induzir nos sistemas poupanças significativas e que são extremamente importantes para financiar a inovação.
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