sábado, março 11, 2006
Angola: por ignorância ou preconceito, médicos discriminam seropositivos
Agência Aids 06.03.06
Em Angola, a discriminação às pessoas soropositivas não é feita apenas pelos seus familiares, amigos ou vizinhos, mas também por alguns profissionais da saúde que, por ignorância ou preconceito, não prestam a devida atenção aos doentes.
Recentemente, Felisberta Massango levou uma amiga, já na fase terminal de Aids, a um hospital público em Luanda. A amiga precisava ser internada, mas o médico em serviço não aceitava. Ele disse que a doente devia ir para o Hospital Esperança, especializado no tratamento de HIV/Aids. Massango explicou que esse é um hospital de dia, sem camas para internamento. Não adiantou. Ela teve que pressionar o médico para admitir a amiga.
Massango, que foi a terceira pessoa soropositiva a dar a cara em Angola, num programa da TV, em 2003, é ativista da Ação Humana, uma ONG de luta contra a Aids."Lá ele cedeu uma cama, mas algumas horas depois deu alta. Ela estava cada vez mais fraca. Depois de muitas voltas em vários hospitais conseguiu-se uma vaga no Hospital Divina Providência. Ela cansou-se de ser rejeitada, e dois dias depois morreu", conta.
Casos assim não são novidade para a diretora clínica do Hospital Esperança, Marília Afonso."Infelizmente ainda temos alguns colegas que talvez não tenham percebido bem a vocação do Hospital Esperança e o que é a Aids", disse ao PlusNews. Uma pessoa diabética que apanha uma malária ou pneumonia não é obrigada a procurar o especialista de diabetes, é atendida por um médico geral, explica. "O doente de Aids deve ser atendido nos centros de saúde como qualquer outro que aparece numa consulta", acrescentou.
O secretário-geral da Ação Humana, Pombal Maria, acha que o problema reside no fato de o pessoal de saúde não ter informação básica para lidar com doentes de Aids. Além disso, disse Pombal, há fraco envolvimento das pessoas soropositivas na administração da terapia anti-retroviral, nos cursos de capacitação, nos fóruns e seminários."Quando aparecem, é só para dar um discurso e vão-se embora," disse Pombal. Perde-se assim a experiência delas em viver com HIV/SIDA. O pessoal médico ganha pouco, está sobrecarregado e, as vezes, pensa que os soropositivos vão ao hospital apenas para morrerem.
"Os hospitais, ou não têm espaço, ou rejeitam o paciente com Aids," disse Carolina Pinto, ativista soropositiva muito conhecida em Angola. "Quando as ONG fazem barulho, aceitam por uma noite, e dão alta no dia seguinte."Recorda-se que uma vez, estando grávida, foi fazer uma análise num hospital público. Enquanto aguardava para tirar o sangue, ouviu uma enfermeira aos berros com o médico: "Atenção, aquela é soropositiva, eu vi a ela na TV, não digas que não te avisei!" Pinto ficou boquiaberta; embora magoada pela situação, ao mesmo tempo, achou divertida. "Eu ia informar ao médico sozinha," conta.
Outro problema é uma certa rivalidade dentro do sistema de saúde com o Hospital Esperança, cujo pessoal recebe um subsidio e por tanto, tem salários um pouco mais altos que o normal. Tutelado pelo Instituto Nacional de Luta contra a Aids, Esperança foi inaugurado com pompa, dois anos atrás, pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Funciona das 8 às 18 horas e controla cerca de cinco mil soropositivos, não só de Luanda, mas de todo o país.
Apenas cinco das 18 províncias têm capacidade para administrar o tratamento anti-retroviral e dar seguimento aos soropositivos. O Presidente dos Santos afirmou, recentemente, que até Setembro, todas as províncias devem ter centros de tratamento anti-retroviral. A taxa de soroprevalência média do país é 4.3 por cento.
A solução para a discriminação, segundo Pinto, "é diminuir a ignorância e o medo dos técnicos de saúde através da formação, clarificar a função do hospital Esperança e ainda dotar a este de capacidade de internação."O governo deveria criar políticas eficazes para os médicos conhecerem o papel do hospital Esperança, dos outros hospitais e deles mesmos, conclui Pombal.
Em Angola, a discriminação às pessoas soropositivas não é feita apenas pelos seus familiares, amigos ou vizinhos, mas também por alguns profissionais da saúde que, por ignorância ou preconceito, não prestam a devida atenção aos doentes.
Recentemente, Felisberta Massango levou uma amiga, já na fase terminal de Aids, a um hospital público em Luanda. A amiga precisava ser internada, mas o médico em serviço não aceitava. Ele disse que a doente devia ir para o Hospital Esperança, especializado no tratamento de HIV/Aids. Massango explicou que esse é um hospital de dia, sem camas para internamento. Não adiantou. Ela teve que pressionar o médico para admitir a amiga.
Massango, que foi a terceira pessoa soropositiva a dar a cara em Angola, num programa da TV, em 2003, é ativista da Ação Humana, uma ONG de luta contra a Aids."Lá ele cedeu uma cama, mas algumas horas depois deu alta. Ela estava cada vez mais fraca. Depois de muitas voltas em vários hospitais conseguiu-se uma vaga no Hospital Divina Providência. Ela cansou-se de ser rejeitada, e dois dias depois morreu", conta.
Casos assim não são novidade para a diretora clínica do Hospital Esperança, Marília Afonso."Infelizmente ainda temos alguns colegas que talvez não tenham percebido bem a vocação do Hospital Esperança e o que é a Aids", disse ao PlusNews. Uma pessoa diabética que apanha uma malária ou pneumonia não é obrigada a procurar o especialista de diabetes, é atendida por um médico geral, explica. "O doente de Aids deve ser atendido nos centros de saúde como qualquer outro que aparece numa consulta", acrescentou.
O secretário-geral da Ação Humana, Pombal Maria, acha que o problema reside no fato de o pessoal de saúde não ter informação básica para lidar com doentes de Aids. Além disso, disse Pombal, há fraco envolvimento das pessoas soropositivas na administração da terapia anti-retroviral, nos cursos de capacitação, nos fóruns e seminários."Quando aparecem, é só para dar um discurso e vão-se embora," disse Pombal. Perde-se assim a experiência delas em viver com HIV/SIDA. O pessoal médico ganha pouco, está sobrecarregado e, as vezes, pensa que os soropositivos vão ao hospital apenas para morrerem.
"Os hospitais, ou não têm espaço, ou rejeitam o paciente com Aids," disse Carolina Pinto, ativista soropositiva muito conhecida em Angola. "Quando as ONG fazem barulho, aceitam por uma noite, e dão alta no dia seguinte."Recorda-se que uma vez, estando grávida, foi fazer uma análise num hospital público. Enquanto aguardava para tirar o sangue, ouviu uma enfermeira aos berros com o médico: "Atenção, aquela é soropositiva, eu vi a ela na TV, não digas que não te avisei!" Pinto ficou boquiaberta; embora magoada pela situação, ao mesmo tempo, achou divertida. "Eu ia informar ao médico sozinha," conta.
Outro problema é uma certa rivalidade dentro do sistema de saúde com o Hospital Esperança, cujo pessoal recebe um subsidio e por tanto, tem salários um pouco mais altos que o normal. Tutelado pelo Instituto Nacional de Luta contra a Aids, Esperança foi inaugurado com pompa, dois anos atrás, pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Funciona das 8 às 18 horas e controla cerca de cinco mil soropositivos, não só de Luanda, mas de todo o país.
Apenas cinco das 18 províncias têm capacidade para administrar o tratamento anti-retroviral e dar seguimento aos soropositivos. O Presidente dos Santos afirmou, recentemente, que até Setembro, todas as províncias devem ter centros de tratamento anti-retroviral. A taxa de soroprevalência média do país é 4.3 por cento.
A solução para a discriminação, segundo Pinto, "é diminuir a ignorância e o medo dos técnicos de saúde através da formação, clarificar a função do hospital Esperança e ainda dotar a este de capacidade de internação."O governo deveria criar políticas eficazes para os médicos conhecerem o papel do hospital Esperança, dos outros hospitais e deles mesmos, conclui Pombal.