sexta-feira, julho 08, 2005

Incidência da hepatite B baixa para um terço?

Para quê é que servem estes números quando se deixa de fora os grupos vulneráveis?

DN 08.07.05

Em Portugal existem 36 mil pessoas portadoras do vírus da hepatite B, o que indica uma melhoria substancial na incidência da doença, reduzindo-a para um terço, já que estimativas anteriores apontavam para 120 mil doentes. Por outro lado, as crianças e adolescentes revelam valores elevados de imunidade por vacinação, indicando que o Plano Nacional de Vacinação está a resultar, conclui o 2.º Inquérito Serológico Nacional, que será divulgado hoje. Mas, este deixou de fora os grupos vulneráveis, como toxicodependentes e sem-abrigo.

Graça Freitas, responsável pela Divisão de Doenças transmissíveis da Direcção-Geral de Saúde (DGS) explica a diminuição de portadores do vírus da hepatite B pela melhoria das condições de vida e de higiene da população, sustentando que os resultados estão "de acordo com o esperado, dado a eficácia da vacina". O inquérito recomenda a manutenção do actual esquema de vacinação, todos os recém-nascidos e jovens dos 11 aos 13 anos.

O estudo anterior sobre hepatite vírica em Portugal, realizado em 1983 por H. Lecour, indicava uma incidência da doença na ordem dos 1,25% da população contra os 0,36% revelados no 2.º Inquérito Serológico Nacional. Por outro lado, 84,9% dos indivíduos estudados há 20 anos eram susceptíveis ao vírus, contra os actuais 51,6%. O distrito de Bragança apresenta os valores mais baixos de imunidade (26,7%) e o de Faro, os mais altos (59,5%).

Rui Tato Marinho, hepatologista do Hospital Santa Maria, diz que a tendência é para uma diminuição de portadores do vírus da hepatite B, mas estima que os valores sejam mais altos. "A percentagem é de certeza maior", diz, acrescentando "Pode ser um valor representativo dos portugueses, mas não é representativo de todos os residentes."

É que este 2.º Inquérito Serológico Nacional foi realizado com as pessoas que se deslocaram a um laboratório de análises entre Fevereiro e Dezembro de 2002, através de uma amostra aleatória da população do Continente. Ou seja, deixou de fora os grupos onde há uma maior incidência de hepatite B e que, habitualmente, não se deslocam a laboratórios de análises, como é o caso dos toxicodependentes, dos imigrantes e dos sem-abrigo. Mas, mesmo assim, Rui Tato Marinho, considera ter havido uma evolução muito positiva.

É nos indivíduos menores de 20 anos que se regista a evolução mais positiva de anticorpos contra o vírus, o que tem a ver com a comercialização da vacina em Portugal a partir de 1995 e a sua introdução no Plano Nacional de Vacinação em 2000. As crianças entre os 5 e os 9 anos estão mais vulneráveis ao vírus, o que se explica pelo facto deste grupo etário ser o de transição entre a administração da vacina por privados e a integração no PNV. A proporção de portadores de hepatite B em Portugal é inferior aos valores verificados em Espanha (0,8%), em 1996, e na população adulta da Alemanha (0,62%).

O 2.º Inquérito Serológico Nacional é apresentado hoje à tarde no Infarmed e tem como objectivo definir o perfil serológico da população relativo a infecções para as quais existem ou se prevê, a curto ou médio prazo, vacinas. Ao mesmo tempo, avalia o PNV.

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