segunda-feira, janeiro 17, 2005

Luta contra a tuberculose tem sido inglória

DN 17.01.05

Agostinho Marques é médico há 30 anos, tantos quantos combate o bacilo de Koch. Uma luta que até agora tem sido inglória, já que «a tuberculose é uma doença que se conhece bem - a causa foi identificada no final do século XIX -, e com medicação eficaz há mais de 50 anos». Simplesmente, continua a matar em Portugal.

Agostinho Marques é pneumologista no Hospital São João, conhece a geografia da doença, pois trabalha para o distrito do Porto, e diz que este é «o pior do País». «Diluiu-se o combate à doença, quando se desmontaram os dispensários e se deixou de ter um cuidado organizado».

O pneumologista tem noção de que no Porto cidade a zona oriental tem taxas que ultrapassam o triplo da média nacional. Das Caxinas, entre Vila do Conde e Póvoa de Varzim, há registo dos piores casos. Quando os doentes chegam, é fácil adivinhar-lhes a origem «Já os conhecemos...»

Para o médico do Norte, o problema são os doentes que resistem aos tratamentos, «são o viveiro que mantém o bacilo disponível». Os tratamentos não são finalizados e aparecem estirpes multirresistentes. «São seis meses de tratamento diário», mas alguns doentes abandonam-no. A disciplina da medicação é rígida e não pode ser deixada à consciência do doente. Por isso, instituiu-se a Toma Observada Directamente. «Há pessoas que se revoltam e não entendem. Choca vir todos os dias ao hospital para tomar comprimidos, pode estar frio, chuva ... É muito agressivo, mas vital!»

Senão, a contaminação continua na rua e pessoas «que andam na sua vida normal são atingidas, ficando espantadas quando sabem que têm tuberculose». A maioria trata-se, o pior são os grupos de risco bem definidos toxicodependentes, sem-abrigo e alguns imigrantes.

«Os governos não gostam nada que se fale da tuberculose, é um problema pequeno na Saúde e desvalorizam-no. Nem sequer é caro. Um tratamento completo não custa 50 euros, porque os medicamentos já nem têm patente. Mas os números revelam bem a situação do País. É preciso combater até ao fim», o que «ainda vai demorar muitos anos...». Mais anos que o tempo de uma legislatura.

Contrariamente aos países europeus, Portugal mantém uma incidência elevada da doença, o dobro da Europa. Até há pouco tempo, não havia sinais de redução, mas nos últimos anos, salienta o médico com entusiasmo, a curva da tuberculose começou a diminuir «lenta e suavemente».

Em 2003, havia 34 tuberculosos por cada cem mil habitantes. Do total, cinco por cento acaba por não resistir. «Uma boa parte vem morrer ao hospital», conta. No ano passado, teve cerca de 30 internamentos, uma dezena morreram. São situações muito graves que ultrapassam a média de 12 dias de internamento e «não há como lhes dar alta», diz.

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