sexta-feira, dezembro 03, 2004
Jovens não retêm na memória uma única campanha
DN 1.12.04
Ninguém se lembra da última campanha promovida pela Comissão Nacional da Luta Contra a Sida (CNLS). E nenhum dos 130 jovens convidados a participar ontem no fórum «Porque é que isto não passa?» acredita que a próxima - «Não é uma ilusão, a sida existe» - vá resultar. Esta iniciativa foi apresentada pelo ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, e «chumbada» pelos jovens. E a avaliar pela opinião dos participantes neste encontro, o balanço de 2004 para a prevenção do HIV realizada pela comissão tem nota negativa.
O objectivo do fórum era avaliar o conhecimento que os jovens têm da doença, mas acabou por revelar que a mensagem não lhes chega. Os estudantes consideraram que as campanhas se deviam dirigir aos pais daqueles que estão a iniciar a vida sexual, uma vez que são eles a oferecer maior resistência à discussão do tema.
Diana Vilas, 18 anos, defende que «as campanhas deviam ser mais chocantes». A estudante diz que os jovens não usam preservativo porque «estão a partilhar um momento íntimo, mas não têm intimidade, por isso, a vergonha fica em primeiro plano e a preocupação passa para segundo». Na opinião de José Vera, médico do Centro Hospitalar de Cascais, «o problema destas campanhas é que, normalmente, estão mais interessadas em promover uma imagem institucional do que em prevenir». Por isso, a baixa eficácia da prevenção não é uma surpresa, sendo «necessário adequar a linguagem e inventar novas fórmulas».
Eugénia Saraiva, dirigente da Liga Portuguesa Contra a Sida, não tem dúvidas em afirmar que as campanhas sobre o HIV/sida falharam. E falham há 20 anos. Para esta psicóloga, é urgente promover iniciativas específicas. «As campanhas não podem ser globais, têm de ser dinamizadas de acordo com a faixa etária à qual se dirigem.» Até agora, «não se tem apostado na prevenção, e é essa a aposta que tem de ser feita». Exemplificando: «Durante o fórum, os jovens apenas referiram as telenovelas como fonte sobre o HIV. São estes meios que chegam a eles.»
Maria José Campos, da Associação Abraço, reitera que «as campanhas não têm passado de iniciativas avulsas, sem uma estratégia global e consistente». Além disso, deviam ser acompanhadas de uma educação sexual nas escolas, que nunca avançou. «Só por si, não podem ter resultados a longo prazo» e a prova está nas taxas nacionais de prevalência da doença. «Os números de 2003 são o espelho da inoperância de dez anos», lamenta.
Balanço.
Quando tomou posse, em Setembro de 2003, António Meliço-Silvestre fez uma aposta clara. Perante o desconhecimento da realidade nacional em relação ao HIV/sida, o coordenador da CNLCS apontou flechas à epidemiologia - antes de actuar, era necessário saber com o que se conta. O primeiro estudo surgiu esta semana, com as conclusões ao rastreio e inquérito de comportamentos dos universitários. A mesma informação sobre a população geral está prevista só para o ano. Para aumentar o conhecimento sobre os infectados, a tutela tornou obrigatória a notificação das infecções. As novas folhas deviam ter chegado aos hospitais em Outubro, mas a medida ainda não foi publicada em Diário da República. Atraso existe também no projecto de monitorização do HIV nas grávidas, que devia ligar cinco unidades de saúde do País este ano.
Sabemos hoje mais sobre a doença do que há um ano? «Temos que dizer que sim, mas ainda estamos longe do que queremos», admite Meliço-Silvestre. Num balanço sobre o trabalho realizado, o responsável destaca três áreas principais: as prisões - com uma experiência-piloto a arrancar em três estabelecimentos -, o acordo laboral - a introdução de folhetos informativos nos recibos de ordenado «está para breve» - e o rastreio dos estudantes universitários, «que funcionou também como prevenção».
O responsável da CNLCS refere como pontos negativos a criação de equipas especializadas nos centros de saúde, que admite estar ainda por resolver, ou a administração da profilaxia do dia seguinte, que impede a infecção pelo HIV depois de risco de contágio, em particular nas vítimas de violações.
Ninguém se lembra da última campanha promovida pela Comissão Nacional da Luta Contra a Sida (CNLS). E nenhum dos 130 jovens convidados a participar ontem no fórum «Porque é que isto não passa?» acredita que a próxima - «Não é uma ilusão, a sida existe» - vá resultar. Esta iniciativa foi apresentada pelo ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, e «chumbada» pelos jovens. E a avaliar pela opinião dos participantes neste encontro, o balanço de 2004 para a prevenção do HIV realizada pela comissão tem nota negativa.
O objectivo do fórum era avaliar o conhecimento que os jovens têm da doença, mas acabou por revelar que a mensagem não lhes chega. Os estudantes consideraram que as campanhas se deviam dirigir aos pais daqueles que estão a iniciar a vida sexual, uma vez que são eles a oferecer maior resistência à discussão do tema.
Diana Vilas, 18 anos, defende que «as campanhas deviam ser mais chocantes». A estudante diz que os jovens não usam preservativo porque «estão a partilhar um momento íntimo, mas não têm intimidade, por isso, a vergonha fica em primeiro plano e a preocupação passa para segundo». Na opinião de José Vera, médico do Centro Hospitalar de Cascais, «o problema destas campanhas é que, normalmente, estão mais interessadas em promover uma imagem institucional do que em prevenir». Por isso, a baixa eficácia da prevenção não é uma surpresa, sendo «necessário adequar a linguagem e inventar novas fórmulas».
Eugénia Saraiva, dirigente da Liga Portuguesa Contra a Sida, não tem dúvidas em afirmar que as campanhas sobre o HIV/sida falharam. E falham há 20 anos. Para esta psicóloga, é urgente promover iniciativas específicas. «As campanhas não podem ser globais, têm de ser dinamizadas de acordo com a faixa etária à qual se dirigem.» Até agora, «não se tem apostado na prevenção, e é essa a aposta que tem de ser feita». Exemplificando: «Durante o fórum, os jovens apenas referiram as telenovelas como fonte sobre o HIV. São estes meios que chegam a eles.»
Maria José Campos, da Associação Abraço, reitera que «as campanhas não têm passado de iniciativas avulsas, sem uma estratégia global e consistente». Além disso, deviam ser acompanhadas de uma educação sexual nas escolas, que nunca avançou. «Só por si, não podem ter resultados a longo prazo» e a prova está nas taxas nacionais de prevalência da doença. «Os números de 2003 são o espelho da inoperância de dez anos», lamenta.
Balanço.
Quando tomou posse, em Setembro de 2003, António Meliço-Silvestre fez uma aposta clara. Perante o desconhecimento da realidade nacional em relação ao HIV/sida, o coordenador da CNLCS apontou flechas à epidemiologia - antes de actuar, era necessário saber com o que se conta. O primeiro estudo surgiu esta semana, com as conclusões ao rastreio e inquérito de comportamentos dos universitários. A mesma informação sobre a população geral está prevista só para o ano. Para aumentar o conhecimento sobre os infectados, a tutela tornou obrigatória a notificação das infecções. As novas folhas deviam ter chegado aos hospitais em Outubro, mas a medida ainda não foi publicada em Diário da República. Atraso existe também no projecto de monitorização do HIV nas grávidas, que devia ligar cinco unidades de saúde do País este ano.
Sabemos hoje mais sobre a doença do que há um ano? «Temos que dizer que sim, mas ainda estamos longe do que queremos», admite Meliço-Silvestre. Num balanço sobre o trabalho realizado, o responsável destaca três áreas principais: as prisões - com uma experiência-piloto a arrancar em três estabelecimentos -, o acordo laboral - a introdução de folhetos informativos nos recibos de ordenado «está para breve» - e o rastreio dos estudantes universitários, «que funcionou também como prevenção».
O responsável da CNLCS refere como pontos negativos a criação de equipas especializadas nos centros de saúde, que admite estar ainda por resolver, ou a administração da profilaxia do dia seguinte, que impede a infecção pelo HIV depois de risco de contágio, em particular nas vítimas de violações.