quarta-feira, novembro 30, 2005
Um caso de sucesso na luta contra a Sida
João Semedo
Infelizmente, o futuro do Hospital Joaquim Urbano está ameaçado. Tinha que ser. Um caso de sucesso em Portugal não pode durar muito tempo...
Antena 1 30.11.05
Os números de infectados com VIH/Sida são preocupantes, quer para os responsáveis pela saúde quer para o cidadão comum. No primeiro semestre de 2005 Portugal registou 321 casos de infectados com VIH/Sida.
Os números são da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida. Na véspera do Dia Nacional de Luta Contra a Sida ainda há, pelo menos um caso de sucesso, no tratamento. O Centro de Terapêutica Combinada (doentes toxicodependentes com Sida) do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, que regista uma taxa de 90 por cento de doentes que não abandona a medicação.
Em declarações à Antena 1 o director do Hospital Joaquim Urbano (HJU), o médico João Semedo, disse que só este ano o seu hospital "ultrapassou os três mil e quinhentos doentes infectados com VIH/Sida diagnosticados e tratados". Este facto dá aos profissionais de saúde do Joaquim Urbano "particulares responsabilidades" no plano da assistência clínica e da assistência médica: "Nós procuramos ir um pouco mais longe e reconhecemos que um hospital público deve também ter um compromisso de cidadania, um compromisso cívico, por isso nós temo-nos associado, todos os anos, ao Dia Mundial de Luta Contra a Sida".
Esta quinta-feira o hospital abre um roteiro histórico "uma reposição de memórias do hospital" - Uma exposição fotográfica "lugares, pessoas, rotinas e momentos - HJU: imagens da memória, pontes para o futuro"; Salas museu, reconstituindo antigas instalações do hospital (farmácia, gabinete médico, escritório); Mostra de equipamentos hospitalares do passado.
Na sexta-feira realiza-se uma reunião para discussão do Centro de Terapêutica Combinada (CTC) com o presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), João Goulão. Este Centro é uma parceria entre o HJU e o IDT e foi consagrado no Plano Nacional de Saúde como um formato de assistência a doentes toxicodependentes e portadores de infecção HIV/Sida "que deveria ser generalizada a outras unidades hospitalares", considera João Semedo.
"Este Centro, actualmente, é o único que existe no país e pela excelência dos resultados que tem demonstrado e que se traduzem numa elevadíssima taxa de adesão dos doentes ao programa terapêutico. Aliás, que é condição de sucesso de tratamento de VIH/Sida". Este médico disse à Antena 1 que a adesão ao tratamento ultrapassa os 90 por cento, quando nas modalidades mais convencionais de tratamento não chega aos 50 por cento.
"É um sucesso muito grande, desse ponto de vista, e vamos avaliá-lo nesta reunião, tanto mais que acabámos de renovar o protocolo com o IDT", disse João Semedo que acrescentou ainda que "o protocolo está redigido numa perspectiva de no futuro o HJU prosseguir este trabalho em conjunto e levá-lo a maior número de doentes. Esse é o nosso compromisso e esse é o sentido das nossas comemorações. Um sentido cívico de alertar a sociedade, a opinião pública, as autoridades, os responsáveis governamentais, para a necessidade de encarar de frente esta chaga dos tempos modernos que tantos jovens e tantos portugueses tem vitimado nos últimos 20 anos".
João Semedo alerta para o facto de o problema da Sida não estar nos hospitais: "Não há listas de espera, em Portugal, nos hospitais para os doentes se tratarem. O problema da Sida está, fundamentalmente, antes e depois do hospital". Antes, explicou o médico, "no que diz respeito à identificação de todos os infectados. Há muitos infectados que não estão ainda notificados".
Depois, "trabalhar para promover a máxima adesão dos doentes à terapêutica e assegurar os cuidados continuados, cuja rede em Portugal não existe, particularmente para estes doentes". Este médico disse ainda à Antena 1 que o principal problema está relacionado com "a política de prevenção, de informação, e de mudança de comportamentos".