domingo, novembro 27, 2005
Saber o mais cedo possível para "evitar alastrar a doença"
Já tivemos relatos de aconselhamentos psicológicos extremamente moralistas nos CADs. Alguém controla a qualidade destas consultas?
Público 27.11.05
Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida."Dessa vez fui estúpida", conta uma jovem. Na sala de espera, senta-se quem pensa que a doença "não acontece só aos outros".
Ana (nome fictício) empurra o puxador, sai porta fora segurando a folha branca do exame na mão esquerda e falando ao telemóvel com a direita. Encosta-se à parede com um movimento corporal de descontracção e um sorriso de alívio que é pontuado com um polegar que faz o gesto de okay: os testes ao vírus HIV/sida deram negativo.
Antes de entrar no gabinete da psicóloga clínica que lhe revelou os resultados, parecia que Ana, uma estudante de 24 anos, tentava acalmar-se: "A probabilidade de eu ter é mínima", "não estou muito preocupada", repetia. O alívio que agora manifesta parece contrastar com a sua aparente serenidade. Aconselhada pelo ex-namorado - a primeira pessoa a quem contou a boa nova pelo telemóvel -, diz que é a única do seu grupo de amigos que teve "a coragem". Conhece quem "prefira viver na ignorância". Para ela, saber o mais cedo possível significa ter acesso aos tratamentos que já existem e "evitar alastrar a doença para outras pessoas".
Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida, explica a coordenadora do Centro de Aconselhamento e Detecção HIV/sida (CAD) da Lapa (em Lisboa), Irene Santo. Foi o caso de Paula (nome fictício), uma estudante de Química de 23 anos que não usou protecção numa situação: "Dessa vez, fui estúpida". Não convenceu o namorado a vir. "Já me chateei com ele por causa disso. Disse-lhe que não acontece só aos outros." Não teve resposta, conta, desalentada.
Há ainda o problema dos que se julgam protegidos só porque foram sendo fiéis, em sucessivas relações. Mas, na "roleta russa das infecções", refere Irene Santo, "a monogamia em série" não é garantia de protecção contra a doença: pode ter-se um parceiro seropositivo e nunca ficar infectado e, com uma única relação, ser infectado - tudo depende de variáveis como a imunidade e o estado geral da pessoa [??], refere Irene Santo.
Um boião cheio de preservativos
Mais vale não arriscar. Um grupo de adolescentes de mochila às costas tira de dentro de um boião mãos cheias de preservativos. Os quatro estudantes de teatro, com idades entre os 16 e 20 anos, aproveitaram uma manhã sem aulas para perguntar quando podem fazer os testes. As duas raparigas querem vir mais tarde, acompanhadas pelos namorados.
Por semana, são cerca de 50 as pessoas que fazem testes ao HIV/sida no primeiro CAD que nasceu em Portugal, em 1998. Mas o total de atendimentos, que incluem apoio psicológico, sobe para o dobro, explica Irene Santo. Predominam as idades entre os 21 e 40 anos (77 por cento) e por cada mulher aparecem dois homens, acrescenta a médica.
Antes da realização de qualquer teste, é obrigatório aconselhamento com a psicóloga. Saem desta sessão a dominar termos como "período janela" [a infecção pode levar de seis a oito semanas a manifestar-se através de análises], e a saber que o sexo oral também representa risco de infecção, um dado que muitos ignoram, explica Irene Santo, coordenadora do CAD da Lapa. Depois, há que gerir os três dias de espera necessários para saber os resultados. Há quem "se distraia com amigos" ou "fique pensativo em casa", explica Ana Barros, a psicóloga clínica que faz o aconselhamento prévio ao teste. Passado este período, chega a altura de recolher os testes.
Ana Barros já teve pessoas que lhe entraram no gabinete com o pé direito, para dar sorte; e outras que saíram de olhos no chão ou aos pulos de alegria. As reacções aos resultados variam e a equipa de técnicos do CAD só tenta que ninguém saia do gabinete a chorar para não perturbar quem aguarda na sala de espera.
Aos que recebem a notícia de que são seropositivos é oferecida ajuda e encaminhamento. Dos primeiros conselhos faz parte o "ter cuidado às pessoas a quem se conta". Mais do que o tratamento, é "a discriminação" que mais preocupa as pessoas, explica Ana Barros.
Público 27.11.05
Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida."Dessa vez fui estúpida", conta uma jovem. Na sala de espera, senta-se quem pensa que a doença "não acontece só aos outros".
Ana (nome fictício) empurra o puxador, sai porta fora segurando a folha branca do exame na mão esquerda e falando ao telemóvel com a direita. Encosta-se à parede com um movimento corporal de descontracção e um sorriso de alívio que é pontuado com um polegar que faz o gesto de okay: os testes ao vírus HIV/sida deram negativo.
Antes de entrar no gabinete da psicóloga clínica que lhe revelou os resultados, parecia que Ana, uma estudante de 24 anos, tentava acalmar-se: "A probabilidade de eu ter é mínima", "não estou muito preocupada", repetia. O alívio que agora manifesta parece contrastar com a sua aparente serenidade. Aconselhada pelo ex-namorado - a primeira pessoa a quem contou a boa nova pelo telemóvel -, diz que é a única do seu grupo de amigos que teve "a coragem". Conhece quem "prefira viver na ignorância". Para ela, saber o mais cedo possível significa ter acesso aos tratamentos que já existem e "evitar alastrar a doença para outras pessoas".
Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida, explica a coordenadora do Centro de Aconselhamento e Detecção HIV/sida (CAD) da Lapa (em Lisboa), Irene Santo. Foi o caso de Paula (nome fictício), uma estudante de Química de 23 anos que não usou protecção numa situação: "Dessa vez, fui estúpida". Não convenceu o namorado a vir. "Já me chateei com ele por causa disso. Disse-lhe que não acontece só aos outros." Não teve resposta, conta, desalentada.
Há ainda o problema dos que se julgam protegidos só porque foram sendo fiéis, em sucessivas relações. Mas, na "roleta russa das infecções", refere Irene Santo, "a monogamia em série" não é garantia de protecção contra a doença: pode ter-se um parceiro seropositivo e nunca ficar infectado e, com uma única relação, ser infectado - tudo depende de variáveis como a imunidade e o estado geral da pessoa [??], refere Irene Santo.
Um boião cheio de preservativos
Mais vale não arriscar. Um grupo de adolescentes de mochila às costas tira de dentro de um boião mãos cheias de preservativos. Os quatro estudantes de teatro, com idades entre os 16 e 20 anos, aproveitaram uma manhã sem aulas para perguntar quando podem fazer os testes. As duas raparigas querem vir mais tarde, acompanhadas pelos namorados.
Por semana, são cerca de 50 as pessoas que fazem testes ao HIV/sida no primeiro CAD que nasceu em Portugal, em 1998. Mas o total de atendimentos, que incluem apoio psicológico, sobe para o dobro, explica Irene Santo. Predominam as idades entre os 21 e 40 anos (77 por cento) e por cada mulher aparecem dois homens, acrescenta a médica.
Antes da realização de qualquer teste, é obrigatório aconselhamento com a psicóloga. Saem desta sessão a dominar termos como "período janela" [a infecção pode levar de seis a oito semanas a manifestar-se através de análises], e a saber que o sexo oral também representa risco de infecção, um dado que muitos ignoram, explica Irene Santo, coordenadora do CAD da Lapa. Depois, há que gerir os três dias de espera necessários para saber os resultados. Há quem "se distraia com amigos" ou "fique pensativo em casa", explica Ana Barros, a psicóloga clínica que faz o aconselhamento prévio ao teste. Passado este período, chega a altura de recolher os testes.
Ana Barros já teve pessoas que lhe entraram no gabinete com o pé direito, para dar sorte; e outras que saíram de olhos no chão ou aos pulos de alegria. As reacções aos resultados variam e a equipa de técnicos do CAD só tenta que ninguém saia do gabinete a chorar para não perturbar quem aguarda na sala de espera.
Aos que recebem a notícia de que são seropositivos é oferecida ajuda e encaminhamento. Dos primeiros conselhos faz parte o "ter cuidado às pessoas a quem se conta". Mais do que o tratamento, é "a discriminação" que mais preocupa as pessoas, explica Ana Barros.
Comments:
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O facto de se incentivar a realização do teste só por si, vale o que vale. É fundamental que depois do teste haja um encaminhamento eficaz, rápido e eficiente para as consultasd de doenças infecciosas. Ora vejamos um exemplo: todos ou quase todos os utilizadores de droga que recorrem à rede de tratamento são testados. Será que o encaminhamento dos seropositivos e o seu seguimento de acordo com as suas necessidades funciona? Não creio, pois esta medida já foi implementada há alguns anos e não me parece que os utilizadores de droga a ser seguidos nos hospitais tenha aumentado.Talvez valê-se a pena avaliar esta medida e perceber os resultados. Talvez eu esteja errada. Oxalá!
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