quinta-feira, outubro 12, 2006

Novo programa de luta contra a sida avança em Dezembro

Público 10.10.06

Um novo programa de prevenção e luta contra a sida está a ser preparado e vai ser colocado em discussão pública no início de Dezembro, anunciou o coordenador nacional da infecção VIH/SIDA, Henrique Barros, no início do 6.º Congresso Nacional sobre Sida, reconhecendo indirectamente que o plano actual (para o triénio 2004-2006) falhou.

"Os resultados não foram os esperados. Os números comprovam-no", explicou ontem ao PÚBLICO o epidemiologista, adiantando apenas que o novo programa, a aplicar até 2010, terá "toda uma filosofia diferente". O objectivo é envolver todos os profissionais de saúde e "ir para além dos aspectos ligados ao tratamento", acrescentou.

"Se ele disse isso [que o plano falhou], é um disparate", reagiu Meliço Silvestre, o seu antecessor e responsável pelo plano actual. Meliço Silvestre contrapõe que o programa "ficou a meio" e que uma série de medidas preconizadas não foram postas em prática, como a criação de quartos de isolamento nos hospitais e a realização de um inquérito epidemiológico a nível nacional.

Saber quantas pessoas estão infectadas em Portugal ainda é um problema. O número de casos notificados ascende a perto de 30 mil, mas o problema da subnotificação persiste. O que é claro para os especialistas é que este continua a ser um grave problema de saúde pública. "Dezoito por cento dos casos notificados em 2005 eram infecções recentes, o que é inadmissível num país da União Europeia", sublinhou durante o congresso Teresa Paixão, defendendo a realização de "campanhas intensas" dirigidas a "grupos mais vulneráveis".

Houve uma camada de pessoas que "foi exposta ao grande choque dos anos 80", quando se começou a falar de sida, "mas a população mais nova não", lembra, a propósito, Eugénio Teófilo, especialista em Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lisboa. Além disso, do ponto de vista da prevenção, "tudo o que foi feito aparentemente não foi eficaz", lamentou.

O encontro foi ainda marcado pelo recado que António Vieira, presidente do congresso, enviou ao ministro da Saúde. É pertinente não "aceitar constrangimentos no acesso a quaisquer medicamentos anti-retrovíricos, particularmente os de última geração, imprescindíveis nas fases mais avançadas da doença", afirmou, numa alusão ao recente despacho de Correia de Campos, que proíbe transitoriamente a entrada de fármacos novos nos hospitais até Dezembro. Henrique Barros respondeu-lhe garantindo que as contenções em curso não irão afectar o fornecimento dos fármacos de última geração no combate à sida.

Mais importante do que "acções que tentam abranger tudo indiscriminadamente", era importante saber-se "quantas pessoas estão a fazer a medicação anti-retrovírica em Portugal e não têm o vírus controlado", propõe, sem medo de polémicas, Eugénio Teófilo. "[Nos hospitais portugueses] cada um faz o que lhe apetece", afirma, notando que os fármacos usados no combate à sida são complexos, pelo que a sua prescrição deveria ser restringida a alguns médicos.

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