quarta-feira, março 22, 2006

Prisões não conseguem fazer frente à hepatite C

Demissão do Miranda Pereira já!

CM 22.03.06

O director-geral dos Serviços Prisionais, Miranda Pereira, reconheceu ontem a impotência dos serviços que dirige em tratar os mais de dois mil reclusos contaminados com hepatite C, existentes em meio prisional.

Miranda Pereira argumentou com os custos – “cerca de 250 euros por semana” – do tratamento com o ‘interferão’ (única forma de erradicar o vírus), que “são incomportáveis” para a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP). E sublinhou que os serviços já suportam os gastos com os anti-retrovirais para o VIH/sida.

Na comissão parlamentar de Saúde, onde se discute a troca de seringas nas prisões, o director-geral foi confrontado pela deputada Maria Antónia Almeida Santos com o retrato negro, referido em recente notícia do CM (elevadas taxas de VIH e hepatites nas prisões). Na resposta, Miranda Pereira classificou a notícia de “idiota” e “desfasada no tempo”.

Mas, depois de admitir a evidência de que “há drogas a circular nas prisões”, acabou por partilhar a “idiotice”, para usar a sua expressão, citando o mais recente rastreio à entrada: 1199 reclusos infectados com VIH, dos quais 735 acumulam com uma das hepatites; cerca de 2500 presos com hepatite C; 433 com hepatite B e 240 com as duas hepatites, B e C. No total, “corresponde a 34,9 por cento de toda a população prisional”.

"ESTACA ZERO"
Depois de há cinco anos o Governo ter promovido visitas a Espanha e Suíça, para ver os programas de troca de seringas nas prisões daqueles países, Miranda Pereira manifesta-se contra a medida.

Como argumento, alega ter sido criada, em Janeiro deste ano, uma comissão conjunta Justiça-Saúde com vista à elaboração de um plano de acção em meio prisional. Nesse sentido, classifica de “extemporânea” a iniciativa parlamentar que ontem o levou à Comissão de Saúde.

NOVOS HÁBITOS DE CONSUMO NÃO CHEGAM ÀS CADEIAS
Miranda Pereira argumentou ontem com uma “mudança no paradigma de consumos”, referindo o crescente uso de haxixe e um maior recurso à heroína fumada, em detrimento do consumo endovenoso, para defender a “inoportunidade” da adopção de um programa de troca de seringas em meio prisional. Além do que descreve como “paradoxo”: “Por um lado proíbe-se o consumo e depois permite-se, facultando os meios.”

Menos convicto da mudança de paradigma está o presidente do Instituto das Drogas e Toxicodependência, João Goulão. Para ele, “é verdade que o padrão mudou em meio livre”, mas julga que “as mudanças não chegaram às prisões”. Em reforço do seu argumento, João Goulão explica-se. “Por via fumada é preciso consumir mais heroína para obter o mesmo efeito, ‘pedra’, do que se for injectada. Apesar de haver droga nas prisões, é muito mais cara.” Além disso, acrescenta, “a heroína fumada deita cheiro, é mais fácil de detectar”.

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