sábado, dezembro 03, 2005

GAT em debate com Mário Soares




Até que enfim que um candidato presidencial ousa falar em sida.
Estamos disponíveis para falar com todos os outros.

Público 03.12.05

Mário Soares considerou anteontem à noite que se deveria voltar a discutir em Portugal a regulamentação da prostituição, uma proposta que consta no manifesto da juventude de apoio à sua candidatura.

Durante a tarde, no Éden, na apresentação do movimento MP3 e do seu manifesto, o candidato presidencial afirmara estar "em sintonia" com o texto do documento que, sublinhou, foi discutido "ponto por ponto" e mereceu o seu acordo.

Mais tarde, Soares, ao participar num encontro sobre a sida, também no Éden, disse não ter ainda posição definida, mas defendeu que a legalização da prostituição deve ser encarada, como forma de evitar a propagação do HIV. "Quando eu era novo, a prostituição era uma actividade regulamentada e isso impedia muita coisa. Depois, com a democracia, achou-se que isso era um intervenção abusiva, mas hoje tenho dúvidas."

Soares defendeu também "a distribuição de preservativos nas escolas", medida que "deveria ser acompanhada por um mínimo de educação sexual", o que "depende do Ministério da Educação e do Governo", que deveria "lançar uma campanha contra a doença".

"Era fundamental e exemplar que o Governo o fizesse", disse o candidato a Presidente, considerando "uma vergonha" o facto de Portugal não dispor de estatísticas sobre o número de pessoas infectadas.

A questão fora suscitada pelas intervenções dos participantes no encontro, entre os quais Pedro Silvério Marques e Luis Mendão, do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de HIV/Sida (GAT), que criticaram o desconhecimento reinante em Portugal sobre a situação real da doença.

"A epidemia não está controlada em nenhum grupo" e se, no ano passado, "mais de 35 mil pessoas acederam ao tratamento, há mais de 50 mil que estão ainda fora do sistema", disse Luís Mendão. Pedro Silvério Marques criticou a inexistência de números credíveis e "o pacto de silêncio que só é quebrado pelo folclore do 1.º de Dezembro", em que se comemora o Dia Mundial da Sida.
[O Luís referia-se a utilizadores de substituição de drogas nos últimos 5 anos com acesso aos CATs. É claro que a jornalista se baralhou com os números...]

"Não temos estatísticas, é uma vergonha. Isso é um problema governamental", corroborou Mário Soares, sublinhando que o combate à doença passa também pelo "empenhamento da sociedade civil". Portugal terá de cuidar também da situação das comunidades emigrantes, em particular "no Luxemburgo, onde há muitos casos e esse é também um problema do Governo", acrescentou.

Mas, "mais do que criar nova legislação tem que haver acção e acção continuada", reclamou o candidato. "Se eu for para Belém, vou alertar o país para a doença e vou fazê-lo em grande escala. Vou-vos dar voz e empenhar-me em promover a consciência nacional sobre este problema", garantiu.

Mário Soares considerou necessário quebrar o silêncio em torno da sida. "Há um grande silêncio e há preconceitos. E nós sabemos de onde vêm esses preconceitos", disse o candidato, para quem os "apelos à castidade" de pouco ou nada servem. A título de exemplo contou uma situação a que assistiu, quando visitou a Guiné, onde uma organização protestante empenhada na luta contra a sida, em vez do uso do preservativo, recomendava a castidade e a fidelidade conjugal. "Apelos à castidade em África é o mesmo que não fazer nada", criticou.

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