sexta-feira, dezembro 02, 2005

Há cada vez mais infectados com o HIV acima dos 40 anos

Público 01.02.05

Há cada vez mais pessoas a partir dos 40 anos a chegar aos serviços de saúde infectadas com o vírus da sida e que desconhecem a sua situação. Homens, mas também mulheres com relações estáveis cujos maridos têm relações sexuais desprotegidas com outras pessoas e que acabam por infectar a parceira.

"Quando se trata de sida, num relacionamento sexual não se pode confiar em ninguém. Esta é a única mensagem eficaz para prevenir a infecção", defende Eugénio Teófilo, médico internista no Hospital dos Capuchos. O especialista, que todos os meses recebe dois a três novos doentes infectados nas consultas do hospital, diz que a doença em Portugal está subavaliada, quer pela subnotificação de casos quer porque continuam a ser muitos aqueles que não fazem o teste de despistagem ao HIV.

Segundo a ONUSida, o organismo das Nações Unidas para o combate à doença, Portugal é o segundo país europeu com mais altas taxas de infecção com o HIV - 280 novos casos por milhão de habitantes -, seguido da Estónia, e bate outro triste recorde. Há 80 portugueses em cada milhão que são diagnosticados quando já sofrem de sida, o que significa que só descobrem a doença muitos anos depois de terem sido infectados.

"Há muitas pessoas a chegarem aos hospitais já em estádio de sida, e que só descobrem que têm o vírus porque têm uma infecção oportunista", explica o médico. Por outro lado, a doença toca pessoas cada vez mais velhas. "Já tive doentes com 80 anos. Mas há cada vez mais mulheres com 40, 50, 60 anos a descobrir que foram infectadas pelos maridos", conta Eugénio Teófilo.

Campanhas pouco eficazes
Os últimos dados oficiais sobre a doença em Portugal comprovam que a infecção com o vírus da sida continua a subir, sobretudo devido a relações sexuais desprotegidas. Até 30 de Junho deste ano, as relações heterossexuais eram responsáveis por 64,2 por cento das infecções detectadas em pessoas infectadas com o vírus mas que ainda não têm manifestações da doença, o dobro das registadas em 1998. Uma subida vertiginosa que acompanhou a quebra a pique dos contágios através da utilização de seringas por toxicodependentes, que este ano ronda os 18 por cento. Já a infecção através das relações homossexuais tem-se mantido constante, rondando os 10 por cento.

As campanhas de alerta para a doença têm sido pouco eficazes. Apesar de se registar um aumento da informação sobre o HIV e as formas de contágio, os comportamentos de risco permanecem. "No outro dia chegou-me uma rapariga de 20 e poucos anos, que descobriu a doença porque a médica não gostou dos resultados de umas análises e resolveu investigar. Ela calcula que tenha sido infectada há três anos", conta. O especialista diz que a prática clínica mostra que cada vez há mais pessoas infectadas e que a longo prazo será cada vez mais difícil tratar estes doentes. "Os tratamentos para a sida custam neste momento mil euros por pessoa por mês", afirma Eugénio Teófilo.

O Ministério da Saúde deu ordens aos hospitais para reduzirem os gastos com medicamentos, que em 2006 poderão apenas crescer quatro por cento. Uma quebra que se irá certamente reflectir nas doenças que mais despesas acarretam para as unidades, como a sida ou a o oncologia. "Nem todos os infectados precisam de ser medicados, mas o consumo destes medicamentos tem de continuar a crescer, ou então as pessoas não são tratadas", diz.

Os cortes orçamentais nestes medicamentos poderão também ameaçar a qualidade de vida dos portadores de HIV. "Os antivirais mais baratos são os mais antigos e os mais tóxicos para os doentes", alerta o internista. "São aqueles que têm mais efeitos secundários", como por exemplo o desaparecimento da gordura facial. E aí entra o estigma e a discriminação social a que continuam a ser votados muitos dos doentes ou portadores de HIV. "Há muito medo e muita discriminação. As pessoas não contam que estão doentes à família, escondem a infecção dos amigos e ficam em grande solidão", conclui.

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