segunda-feira, outubro 03, 2005
Portugal "muito vulnerável" a aumento de casos de Sida
Lusa 03.10.05
O director da agência das Nações Unidas para o combate à Sida considerou hoje que Portugal é um país "muito vulnerável ao aumento de novos casos" e que "deveria ser feito mais" para travar a expansão da doença.
Em declarações aos jornalistas após a conferência que proferiu hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, Peter Piot destacou que Portugal é também um dos "países mais afectados (pela Sida) da Europa", pelo que "deveria ser feito mais" no combate à sua expansão, nomeadamente no que toca ao aproximar das prioridades da liderança política às dos grupos de intervenção comunitários.
Segundo os últimos dados divulgados pelas autoridades, foram notificados em Portugal mais de 27 mil casos de infecção pelo VIH desde 1986 e até Junho deste ano. A necessidade de uma liderança que mobilize o governos e as instituições civis para o combate à infecção foi um dos temas que Peter Piot destacou na sua conferência, durante a qual alertou também para o carácter global da doença.
"Há 65 milhões de pessoas infectadas em 25 anos, todas relacionadas umas com as outras de alguma forma", o que faz com que a Sida não possa ser encarada como mais uma doença infecciosa, mas pertença à "categoria" de um problema global, como as alterações climáticas, a pobreza ou o terrorismo, disse.
Salientando que, "de um ponto de vista histórico", está-se "apenas no início da epidemia", e que a infecção continua a expandir-se em termos geográficos, Peter Piot lembrou as marcas que a doença deixa nas sociedades, ao afectar, e matar, sobretudo adultos jovens "na sua idade produtiva e reprodutiva".
A Sida "tem um impacto a longo termo na economia e no desenvolvimento social muito maior do que qualquer outra doença", frisou o director da ONUSIDA, alertando também para o cada vez maior peso das mulheres entre as novas infecções. A importância do contacto sexual na transmissão da doença coloca igualmente "desafios" à sociedade e à saúde pública, alertou Peter Piot, pois a Sida evoca noções de "pecado" ou "vergonha" cujo estigma "atrasa a acção".
Porém, apesar do cenário geral ser ainda sombrio, Peter Piot prefere considerar que o copo do combate à doença "está meio cheio", uma vez que, ao contrário do que ocorria há dez ou 15 anos, existem já países que assumiram a luta à doença e o fornecimento de tratamento aos seus cidadãos como uma prioridade.
"Hoje estamos a entrar numa nova fase de resposta à doença", destacou Peter Piot, lembrando o aumento dos donativos financeiros para a prevenção e tratamento da Sida que se tem verificado em várias regiões do mundo nos últimos cinco anos e a capacidade de mobilização e união de entidades da sociedade civil que a doença potenciou.