quarta-feira, dezembro 15, 2004
Tratamento contra HIV mal testado no Uganda
DN 15.12.04
Em Janeiro de 2003, o Presidente Bush anunciou um plano de emergência para o combate à sida, no qual iriam ser investidos 15 mil milhões de dólares ao longo de cinco anos. O objectivo era evitar sete milhões de novos infectados, garantir tratamento a dois milhões de pessoas e cuidados de saúde a outros dez milhões. Caso fosse bem executado, salvaria milhões de vidas.
Desde 1997 que o Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA tinha em curso no Uganda uma investigação sobre a eficácia da aplicação de doses individuais do anti-retroviral nevirapina no bloqueio da transmissão do HIV da mãe para o filho, e o estudo tinha mostrado que a transmissão era reduzida para metade dos casos. Foi esse resultado que levou a que a Casa Branca iniciasse o seu programa histórico de combate à sida em África, e o Presidente a apontar o caso do Uganda como exemplar.
Mas em 14 de Março de 2002, Edmund C. Tramont, chefe da investigação sobre HIV no NIH, escrevia num relatório dirigido a Anthony Fauci, director do Instituto Nacional de Doenças Alérgicas e Infecto-Contagiosas, que a investigação no Uganda não estava a ser acompanhada por registos fiáveis e que o controlo era tão mal feito que os técnicos de saúde tinham de fazer análises de sangue a posteriori para saberem se tinha ou não sido ministrado aos doentes a nevirapina. O NIH nunca informou a Casa Branca sobre o que acontecia no terreno, e Tramont dizia «Todos reconhecemos a enormidade que esta decisão pode ter na utilização a nível mundial da nevirapina.»
Desde essa altura, foram administradas centenas de milhares de doses do medicamento a mães e bebés africanos os funcionários do NIH garantem que foi possibilitado a metade desses bebés evitar serem infectados, mas há especialistas a defender que esses bebés podem ter adquirido resistências ao tratamento.
O fabricante da nevirapina, a Boehringer-Ingelheim, do Connecticut, avisou o NIH que vários aspectos do estudo levantavam preocupações (mudanças no padrão da experiência, administração de doses erradas, o não serem assinalados problemas potencialmente fatais) e a Westat, a empresa que no terreno auditava o estudo, confirmava que «muitos acontecimentos adversos para a mãe e o bebé não terão sido registados ou comunicados a tempo». O NIH acabou por suspender o programa na Primavera de 2002 e enviou às autoridades ugandesas um memorando em que eram identificadas violações sérias das leis federais de protecção do doente.
A Westat descobriu 14 mortes não registadas na documentação do estudo. Neste momento, as posições estão divididas. Os serviços de saúde sul-africanos recomendaram o fim da administração das doses únicas, receando criação de resistências, mas o director de um hospital sul-africano diz que «não é ideal, mas funciona. Sem ele, muitos bebés teriam morrido».
Em Janeiro de 2003, o Presidente Bush anunciou um plano de emergência para o combate à sida, no qual iriam ser investidos 15 mil milhões de dólares ao longo de cinco anos. O objectivo era evitar sete milhões de novos infectados, garantir tratamento a dois milhões de pessoas e cuidados de saúde a outros dez milhões. Caso fosse bem executado, salvaria milhões de vidas.
Desde 1997 que o Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA tinha em curso no Uganda uma investigação sobre a eficácia da aplicação de doses individuais do anti-retroviral nevirapina no bloqueio da transmissão do HIV da mãe para o filho, e o estudo tinha mostrado que a transmissão era reduzida para metade dos casos. Foi esse resultado que levou a que a Casa Branca iniciasse o seu programa histórico de combate à sida em África, e o Presidente a apontar o caso do Uganda como exemplar.
Mas em 14 de Março de 2002, Edmund C. Tramont, chefe da investigação sobre HIV no NIH, escrevia num relatório dirigido a Anthony Fauci, director do Instituto Nacional de Doenças Alérgicas e Infecto-Contagiosas, que a investigação no Uganda não estava a ser acompanhada por registos fiáveis e que o controlo era tão mal feito que os técnicos de saúde tinham de fazer análises de sangue a posteriori para saberem se tinha ou não sido ministrado aos doentes a nevirapina. O NIH nunca informou a Casa Branca sobre o que acontecia no terreno, e Tramont dizia «Todos reconhecemos a enormidade que esta decisão pode ter na utilização a nível mundial da nevirapina.»
Desde essa altura, foram administradas centenas de milhares de doses do medicamento a mães e bebés africanos os funcionários do NIH garantem que foi possibilitado a metade desses bebés evitar serem infectados, mas há especialistas a defender que esses bebés podem ter adquirido resistências ao tratamento.
O fabricante da nevirapina, a Boehringer-Ingelheim, do Connecticut, avisou o NIH que vários aspectos do estudo levantavam preocupações (mudanças no padrão da experiência, administração de doses erradas, o não serem assinalados problemas potencialmente fatais) e a Westat, a empresa que no terreno auditava o estudo, confirmava que «muitos acontecimentos adversos para a mãe e o bebé não terão sido registados ou comunicados a tempo». O NIH acabou por suspender o programa na Primavera de 2002 e enviou às autoridades ugandesas um memorando em que eram identificadas violações sérias das leis federais de protecção do doente.
A Westat descobriu 14 mortes não registadas na documentação do estudo. Neste momento, as posições estão divididas. Os serviços de saúde sul-africanos recomendaram o fim da administração das doses únicas, receando criação de resistências, mas o director de um hospital sul-africano diz que «não é ideal, mas funciona. Sem ele, muitos bebés teriam morrido».