quarta-feira, dezembro 08, 2004

Degradação atinge 60% do Santa Maria

Quem conhece o serviço de doenças infecto-contagiosas do Hospital de Santa Maria sabe do que se fala aqui...

DN 8.12.04

Sessenta por cento das instalações do Hospital de Santa Maria estão degradadas. Por isso mesmo, doentes e profissionais são unânimes ao afirmarem: «Há que repensar Santa Maria.» E tudo pode começar pela reestruturação do velho edifício, cuja degradação está à vista de todos. O certo é que muitas daquelas salas que hoje servem os utentes foram construídas para outros fins, mas só quem lá trabalha é que se apercebe disso.

João Álvaro Correia da Cunha, director do Serviço de Cardiologia e ex-director clínico do hospital, é um dos homens que conhecem bem a história do Santa Maria. Ao DN, disse não ter dúvidas que o velho edifício é o ponto crítico e de maior constrangimento do hospital. «Muitas das áreas concebidas no início nem sequer estão a desempenhar a função para que foram feitas», referiu, dando como exemplo o piso 9, inicialmente destinado ao tratamento da tuberculose e hoje reconvertido em unidade de nefrologia e hemodiálise.

Mas os problemas não ficam por aqui. Em 1954, não existiam consultas externas. «A razão pela qual temos a maior parte da consulta em condições absolutamente inadequadas, com um nível de humanização deficiente, é porque se trata de um espaço adaptado», explica.

Também no bloco operatório o cenário não é melhor, já que «foi concebido segundo um modelo que está totalmente desactualizado hoje». Mais: «Não é possível reconverter o bloco operatório central, as oito salas das 26 que temos. A sua concepção está tão obsoleta que não há como reconverter», salienta o ex-director clínico.

Mesmo assim, Santa Maria tem que responder a quase todo o País, apesar de a sua área de influência ser apenas a da Grande Lisboa. Neste momento, só três distritos ainda não enviaram doentes para esta unidade, incluindo as ilhas. O hospital conta com 1091 camas e 4635 profissionais, destes um quarto não tem uma relação laboral estável. Isto «não pode gerar bons resultados», disse Correia da Cunha.

Quanto às taxas de ocupação, as medicinas sobressaem em relação aos outros serviços, tendo ultrapassado, em 2003, os cem por cento, «o que é inadequado». O ex-director clínico explica porquê: «É o mesmo que dizer que os serviços têm sobrelotação. É o mesmo que dizer que, em termos de humanização, os cuidados não são os ideais. Temos todos os dias doentes em macas. Isto tem de ser dito porque é verdade e não se pode ocultar.» Para Correia da Cunha, o futuro passa mesmo por repensar o hospital.

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