sábado, março 19, 2005

Kit de troca de seringas não previne hepatite C



A ausência de um recipiente de metal onde os utilizadores de drogas por via endovenosa possam preparar o "caldo" - ou seja, misturar e aquecer a mistura de heroína ou cocaína com água, antes da injecção - é, de acordo com a médica Maria José Campos, da Associação Abraço, uma falha do kit disponibilizado nas ruas e farmácias do País, pois assim "não previne o contágio da hepatite C".

Este kit, que foi criado para combater a infecção do HIV, será mais eficaz para este vírus, já que é muito menos resistente que o seu congénere HCV, que causa a hepatite C. Aliás, de acordo com dados apresentados por Campos no Fórum Hepatite C organizado ontem em Sintra pela associação SOS Hepatites, "a história natural dos utilizadores de drogas por via endovenosa demonstra que a percentagem daqueles que se infectam com HCV nos primeiros tempos dessa prática é muito maior que a daqueles que apanham logo HIV."

Outro factor que concorre para a maior probabilidade de infecção por HCV em relação ao HIV é a prevalência do vírus da hepatite C entre os utilizadores de drogas por via endovenosa crê-se que entre 70% e 90% dos que alguma vez se injectaram estejam infectados com ele, o que implica que haja grandes possibilidades de que a pessoa com quem se partilha o recipiente do caldo "passe" o vírus.

António Meliço-Silvestre, o presidente da Comissão de Luta contra a Sida, admite que a ausência do recipiente no kit pode ser problemática, mas garante que um novo kit está "para sair". Isso ainda não aconteceu, explica, "devido a um problema burocrático, foi preciso perguntar ao Instituto da Farmácia e do Medicamento qual o estatuto do ácido cítrico, que queríamos também colocar no kit". O instituto terá levado alguns meses a responder, o que terá contribuído para o atraso.

Em todo o caso, Maria José Campos frisa que, "se houvesse uma campanha de informação bem feita e dirigida aos utilizadores de drogas, provavelmente ninguém partilharia o recipiente, mesmo que ele não fosse incluído no kit".

A insistência na ideia de "grupos de risco" foi outro dos alvos da intervenção de Maria José Campos. "Estamos a pagar os erros que se cometeram em 20 anos de epidemia de sida. Fez-se passar a ideia de que a infecção por HIV só dizia respeito a toxicodependentes, homossexuais, prostitutas, hemofílicos... E as pessoas acharam que se não se reviam nesse perfil não estavam em risco - e viu-se o resultado. Não se pode cair no mesmo erro em relação à hepatite C."
(...)

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