segunda-feira, fevereiro 14, 2005
"Este vírus espanta porque sofreu mutações sem perder a força"
De todos os artigos que foram publicados na imprensa portuguesa sobre o caso de NY durante o fim-de-semana, este deve ser o menos sensacionalista.
"O vírus já está a ser caracterizado", diz Ricardo Camacho.
DN 13.02.05
Um vírus que se quer tornar resistente aos fármacos tem que sofrer mutações. Tem que perder força para ganhar terreno. "É como se abdicasse , como se escolhesse cortar um braço e depois uma perna para conseguir resistir", explica Ricardo Camacho, director do Laboratório de Virologia do Hospital Egas Moniz. "O caso de Nova Iorque é novo porque desmente isto", diz. É que um vírus resistente à terapêutica perde capacidade para acelerar a doença. "Mas este não perdeu", acrescenta.
Para Ricardo Camacho, o caso divulgado pelas autoridades de saúde norte-americanas deixa uma pergunta que precisa de resposta urgente "Esta é uma variante viral completamente diferente ou observamos um doente que, por ser consumidor de anfetaminas, tinha um sistema imunitário já muito afectado?"
A rapidez com que a doença se instalou surpreendeu este responsável. Isto porque os casos conhecidos em Portugal de vírus multir-resistentes não evoluem como o que foi agora divulgado. De acordo com Ricardo Camacho, "no nosso País, 8,9% dos casos são de vírus multirresistentes". E acrescenta "Estas são pessoas que vivem bem, porque a doença não foi acelerada."
Para Ricardo Camacho, "neste momento não há uma explicação para o que aconteceu com este doente". A evolução tão rápida da infecção "é muito estranha porque o vírus não perdeu capacidade de replicação", diz. Procurar todos os parceiros do doente "faz todo o sentido porque é preciso saber como está a evoluir a doença". O responsável não tem dúvidas de que "vai ser possível encontrar a pessoa que infectou este homem".
O que aconteceu nos Estados Unidos não foi, segundo Ricardo Camacho, a descoberta de um novo tipo de vírus da sida. "Isso seria substancialmente mais grave", diz. Sem querer "soar fatalista", o responsável admite "estar sempre à espera de ouvir a notícia tétrica de que foi encontrada uma nova estirpe do vírus, porque isso é mesmo uma questão de tempo".
São "extremamente raros" os casos de progressão rápida de uma infecção por HIV para sida, explica Ricardo Camacho. Até 2000, não havia, segundo o responsável, mais de oito casos de "sida fulminante" descritos na literatura médica. No entanto, houve já dois casos detectados em Portugal. Em Junho de 1998 foi detectada a infecção por HIV a um jovem de 20 anos residente em Santarém. Em Março de 1999, a fase de infecção tinha evoluído para um estado de sida terminal, o que o conduziu à morte. O seu sistema imunitário foi morto a 100% no momento da infecção por HIV. "Não sendo igual, é um caso que pode responder a questões semelhantes", conclui.
"O vírus já está a ser caracterizado", diz Ricardo Camacho.
DN 13.02.05
Um vírus que se quer tornar resistente aos fármacos tem que sofrer mutações. Tem que perder força para ganhar terreno. "É como se abdicasse , como se escolhesse cortar um braço e depois uma perna para conseguir resistir", explica Ricardo Camacho, director do Laboratório de Virologia do Hospital Egas Moniz. "O caso de Nova Iorque é novo porque desmente isto", diz. É que um vírus resistente à terapêutica perde capacidade para acelerar a doença. "Mas este não perdeu", acrescenta.
Para Ricardo Camacho, o caso divulgado pelas autoridades de saúde norte-americanas deixa uma pergunta que precisa de resposta urgente "Esta é uma variante viral completamente diferente ou observamos um doente que, por ser consumidor de anfetaminas, tinha um sistema imunitário já muito afectado?"
A rapidez com que a doença se instalou surpreendeu este responsável. Isto porque os casos conhecidos em Portugal de vírus multir-resistentes não evoluem como o que foi agora divulgado. De acordo com Ricardo Camacho, "no nosso País, 8,9% dos casos são de vírus multirresistentes". E acrescenta "Estas são pessoas que vivem bem, porque a doença não foi acelerada."
Para Ricardo Camacho, "neste momento não há uma explicação para o que aconteceu com este doente". A evolução tão rápida da infecção "é muito estranha porque o vírus não perdeu capacidade de replicação", diz. Procurar todos os parceiros do doente "faz todo o sentido porque é preciso saber como está a evoluir a doença". O responsável não tem dúvidas de que "vai ser possível encontrar a pessoa que infectou este homem".
O que aconteceu nos Estados Unidos não foi, segundo Ricardo Camacho, a descoberta de um novo tipo de vírus da sida. "Isso seria substancialmente mais grave", diz. Sem querer "soar fatalista", o responsável admite "estar sempre à espera de ouvir a notícia tétrica de que foi encontrada uma nova estirpe do vírus, porque isso é mesmo uma questão de tempo".
São "extremamente raros" os casos de progressão rápida de uma infecção por HIV para sida, explica Ricardo Camacho. Até 2000, não havia, segundo o responsável, mais de oito casos de "sida fulminante" descritos na literatura médica. No entanto, houve já dois casos detectados em Portugal. Em Junho de 1998 foi detectada a infecção por HIV a um jovem de 20 anos residente em Santarém. Em Março de 1999, a fase de infecção tinha evoluído para um estado de sida terminal, o que o conduziu à morte. O seu sistema imunitário foi morto a 100% no momento da infecção por HIV. "Não sendo igual, é um caso que pode responder a questões semelhantes", conclui.