sexta-feira, setembro 08, 2006

Coordenador da Sida ataca laboratórios farmacêuticos

JN 06.09.06

Argumentar que a restrição de gastos com medicamentos nos hospitais é violar o direitos dos doentes ao tratamento mais inovador e, portanto, mais eficaz e menos difícil, é "imoral". Num artigo demolidor ontem lançado no "site" do Ministério da Saúde e veladamente dirigido à indústria farmacêutica, o coordenador nacional para a Infecção VIH/Sida garante que, no caso dos antiretrovíricos, os interesses dos doentes ficam muito melhor acautelados com a adopção adequada de tratamentos bem conhecidos do que com a sujeição a "fármacos ditos inovadores".

Henrique Barros socorre-se de um estudo da revista científica The Lancet para sustentar a tese contrária à que se levantou com o anúncio do tecto máximo de 4% para o aumento dos gastos com medicamentos nos hospitais e com a publicação de limitações à introdução de fármacos inovadores.

A investigação avaliou 22.217 adultos com VIH "ao fim de um ano após o início do primeiro tratamento anti-retrovírico e mostrou que nada se ganhou a partir de 1998 em termos de sobrevivência e progressão para sida, apesar da diversificação das opções terapêuticas".

O epidemiologista vai mais longe e recorda o caso do anti-inflamatório Vioxx para lembrar que "as novidades por vezes acabam retiradas do mercado poucos anos depois de publicitadas como extraordinariamente mais úteis do que tudo o que antes havia".

Levantar "os fantasmas do crescimento limite de 4% ou o papel determinante dos preços exorbitantes dos fármacos inovadores mais parece uma fuga a assumir os verdadeiros desafios". Que, para Barros, passam por uma identificação correcta dos casos - "evitando a progressão para fases mais avançadas da doença com custo acrescido" pelas infecções oportunistas - e pelo recurso a tratamentos ajustados cujo cumprimento rigoroso os doentes devem compreender. Assim, garante, conciliam-se os interesses dos doentes e os escassos recursos disponíveis.

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