segunda-feira, julho 10, 2006

Enviado da ONU considera "terrível" situação da SIDA em Moçambique

Lusa 07.07.06

O enviado especial da Nações Unidas para a SIDA em África, Stephen Lewis, considerou hoje "terrível" a situação da pandemia em Moçambique e apelou ao governo para "movimentar céus e terras" no sentido de inverter o cenário.

Moçambique é um dos países mais afectados pelo HIV/SIDA na África Sub-Saariana, com uma seroprevalância estimada em 16,2 por cento, segundo o último estudo do Governo sobre a doença, realizado em 2004.

Dos 1,4 milhões de casos detectados nessa avaliação, 800 mil são mulheres. "Moçambique está numa grave crise. A pandemia (da SIDA) está profundamente enraizada no país", disse Stephen Lewis aos jornalistas no final de uma visita de cinco dias ao país. "O governo moçambicano tem de movimentar céus e terra para aumentar o acesso ao tratamento anti-retroviral nos próximos seis meses", acrescentou.

Lewis afirmou que, embora a resposta do governo à doença seja de emergência, a "factura (dos efeitos da SIDA em Moçambique) será muito cara dentro de quatro ou cinco anos". Por isso, o enviado de Kofi Annan considerou pertinente que o executivo moçambicano conceda tratamento aos doentes, principalmente às mulheres, de modo a evitar a contaminação de bebés pelas mães portadoras do vírus da SIDA.

"É absolutamente necessário que o governo moçambicano cumpra a meta de tratamento de 55 mil pessoas infectadas pelo vírus da SIDA", disse. Lewis sugeriu igualmente ao governo moçambicano que alargue o atendimento à população das zonas rurais, onde reside cerca de metade dos moçambicanos.

Hoje, a primeira-ministra moçambicana, Luísa Diogo, que recebeu Stephen Lewis em audiência, anunciou que, proximamente, o seu executivo vai aumentar para 40 mil o número de beneficiários com acesso aos anti-retrovirais, que, de momento, se situa em 25 mil.

Durante a sua estada em Moçambique, Lewis disse ter constatado que, em algumas regiões do país, "muitas crianças" ainda morrem de SIDA, devido à contaminação da doença durante à gestação, por mães seropositivas. O enviado especial da ONU para área da SIDA no continente africano considerou "inaceitável" a continuação de mortes por via de transmissão vertical, ou seja, a contaminação de mãe para filho, durante a gravidez.

"Não há nenhuma razão para que alguma criança morra via transmissão vertical. Temos tratamento eficaz para evitar estas mortes", disse, sublinhando que no seu país, Canadá, já não se regista este tipo de mortes.

Lewis referiu ainda ter deparado com problemas de mulheres que são estigmatizadas devido à "desigualdade" do género que persiste no país. Na cidade da Beira, capital provincial de Sofala, centro do país, por exemplo, o enviado da ONU disse que encontrou centros hospitalares onde o número camas disponibilizadas para mulheres que sofrem de doenças relacionadas com a SIDA é relativamente reduzido em comparação com as que são fornecidas aos homens. Nestes estabelecimentos hospitalares, "existem quartos com um elevado número de camas, para poucos homens, muitos dos quais não estão infectados", disse.

"As mulheres estão desproporcionadamente em risco comparativamente aos homens", o que revela a persistência de desigualdade de género" nestes locais, referiu. Como solução, Lewis recomendou o governo a adoptar políticas que "dêem poderes às mulheres, bem como a aprovar legislação contra a violação, para reduzir a desigualdade de género e mudar o comportamento dos homens".

Lewis lamentou ainda o elevado número de órfãos da SIDA no país, especialmente crianças chefes de família, situação que considerou "grave" e "absolutamente inaceitável" e, face à qual "o governo tem de tomar medidas".

Por outro lado, o enviado da ONU apelou à comunidade internacional para apoiar Moçambique na assistência às crianças abrangidas por projectos da ONU, designadamente o programa de distribuição de refeições nas escolas, porque "muitas crianças têm apenas uma refeição por dia e nenhuma ao fim-de-semana".

Lewis reconheceu, também, que o governo moçambicano enfrenta uma "grave carência de recursos humanos" para fazer face ao problema da SIDA no país. Para inverter a situação, defendeu o "reforço de todo o trabalho das Nações Unidas em Moçambique", país que, considerou, tem potencial para superar a problemática da pandemia.

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