quarta-feira, julho 20, 2005

Comissão Nacional brasileira rebate declarações do Gallo

Quem me dera que tivéssemos um coordenador nacional de sida como o brasileiro...

Agência AIDS 19.07.05

Em nota publicada na noite desta terça-feira, 19, o Programa Nacional de DST/Aids esclarece as declarações do co-descobridor do vírus da Aids, Robert Gallo:

"A respeito das declarações do cientista Robert Gallo sobre a atuação do governo brasileiro na prevenção e tratamento da Aids, o Programa Nacional de DST/Aids esclarece que:

Discorda das colocações do pesquisador, pois ele defende claramente interesses econômicos da indústria farmacêutica e não o interesse público e das pessoas que vivem com HIV/Aids. A ciência deve servir primordialmente à humanidade, de modo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, acima das interferências comerciais, como está disposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um pesquisador que se diz amparado na ciência não pode, do ponto de vista ético, ignorar aspectos sociais, econômicos e culturais tão importantes para o enfrentamento da Aids quanto o fez Robert Gallo.

Uma das várias conclusões questionáveis do pesquisador norte-americano diz respeito aos supostos danos provocados pelo possível licenciamento compulsório relacionado ao anti-retroviral Kaletra, do laboratório Abbott. Segundo Gallo, essa estratégia prejudicaria os futuros investimentos farmacêuticos no Brasil. Não há fundamento racional nessa afirmação porque, historicamente, não houve desenvolvimento tecnológico em anti-retrovirais por parte de empresas farmacêuticas multinacionais no país.

Além disso, a afirmação que “o Brasil seria o último lugar com o qual a Abbott vai se preocupar se houvesse outra epidemia” não procede, pois, dificilmente, a indústria farmacêutica renegaria o mercado brasileiro, que é o sexto em volume no mundo e um excelente comprador, dado ao considerável quantitativo de medicamentos adquiridos pelo governo.

Outra colocação discutível foi a de atribuir a estratégia de licenciamento compulsório do Kaletra ao fato de o Brasil ser “um país pobre”. O licenciamento baseia-se no interesse público para a garantia da sustentabilidade do Programa Nacional DST/Aids, tendo em vista os elevados preços praticados pela empresa, quando comparados àqueles negociados no mercado internacional. A justificativa de interesse público constitui-se em um instrumento de fortalecimento da autonomia nacional, sobretudo dos países em desenvolvimento, para o atendimento das necessidades de saúde pública, o qual é amplamente respaldado em acordos internacionais e internalizado na legislação brasileira.

Gallo demonstrou ignorância ao desconhecer o impacto da lipodistrofia na redução do estigma e na qualidade de vida dos pacientes em tratamento com terapia anti-retroviral. A lipodistrofia não é considerada pelo Ministério da Saúde um problema meramente estético de acúmulo de gordura motivada pelos efeitos dos medicamentos anti-Aids, tanto que o governo oferece a cirurgia reparadora para os casos graves, não considerando o problema “melhor do que a morte”, como pensa o pesquisador.

Quanto às críticas ao programa brasileiro, Gallo pôs à mostra todo o seu preconceito e desrespeito aos direitos humanos. A política brasileira de Aids baseia-se nos princípios constitucionais do acesso universal à saúde integral, incluindo prevenção e tratamento gratuito, entre outros. No Brasil, a exclusão de qualquer pessoa devido à condição econômica ou outro fator, como acontece em outros países, é descumprir a lei. Graças a essa política, milhares de brasileiros vivem com HIV/Aids há vários anos, com expectativa de vida ampliada. Por assumir esse compromisso precocemente, o Programa Brasileiro de Aids é considerado internacionalmente como referência mundial.

A comparação com o governo dos Estados Unidos não procede tendo em vista que não há equivalência entre os sistemas de saúde de ambos os países. Ao contrário do governo norte-americano e apesar de sua condição de país em desenvolvimento, o Brasil entende que o acesso universal e gratuito aos insumos e serviços de saúde é uma prioridade na política nacional e, portanto, exige a adoção de estratégias que assegurem esse direito.

Pesquisas clínicas obtidas a partir da experiência brasileira na utilização dos anti-retrovirais revelam níveis de resistência iguais ou menores do que os alcançados em países industrializados, o que demonstra que é possível e viável para países em desenvolvimento o acesso à terapia ant-retroviral. O investimento em educação e promoção também é prioridade para o Governo Brasileiro, que acredita que informação ainda é um dos componentes mais eficazes na prevenção da Aids e no combate a conceitos equivocados como os expostos por Robert Gallo.

Pedro Chequer
Diretor do Programa Nacional de DST/Aids

Comments:
Realmente o Brasil tem trabalhado bem até agora. Vamos torcer juntos, para que os responsáveis brasileiros não sejam comprados e que não haja corrupção. Pessoalmente não acredito nisso, mais dia menos dia os multi milhões vão fazer os seus estragos. Todos se vendem e tudo tem um preço.
Eu tenho fé na China, e no trabalho que estão a fazer devido ao grande numero de infectados naquele país. Quem sabe se os orientais vão poder ajudar o mundo.
Talvez a curto prazo no mercado de drogas anti.VIH, possam haver os chamados “Negócios da China”. Vamos aguardar para ver.
Até lá temos que levar com os todos poderosos, é triste mas é a realidade.
 
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