terça-feira, junho 21, 2005

Tutela da sida fica com alto comissário

Enfim... é sempre melhor demitir-se antes de ser demitido...

DN 18.06.05

O coordenador da Comissão Nacional de Luta contra a Sida (CNLCS) anunciou ontem que pediu a demissão, um ano antes de terminar o mandato. António Meliço-Silvestre justifica o abandono do cargo pelo facto de não lhe terem sido dadas condições políticas para cumprir com as metas traçadas, nomeadamente o rastreio nacional ao HIV que aguarda há quatro meses pela aprovação de Correia de Campos. Outro dos motivos invocados passa pela intenção da tutela em colocar a comissão sob dependência directa do alto comissário da Saúde, Pereira Miguel.

"Assumi funções na directa dependência do ministro e não do alto comissário", afirmou o médico, nomeado em 2003 pelo então titular da pasta Luís Filipe Pereira. Escusando-se a comentar as relações com o actual ministro - "que conheço há 40 anos e que trato por tu" - lamentou o facto de o combate ao HIV/sida não ser uma prioridade para o actual ministério. "Reunimos ao fim de três meses, quando o seu antecessor nos recebia mensalmente.". Sobre as ideias do Executivo para travar a doença, constantes no Programa de Governo, ironizou "Aquilo não é programa, o que não quer dizer que não estejam agora a ser pensadas por grandes cabeças." Questionado sobre qual seria o perfil mais adequado para o seu sucessor, o encarregado de missão respondeu apenas: "Nem sei se haverá sucessor", referindo-se à reestruturação na estrutura da comissão nacional.

O atraso no rastreio nacional - que iria incidir sobre uma amostra de nove mil pessoas - foi um dos motivos principais para que Meliço-Silvestre se afastasse. Quando tomou posse, assumiu como prioridade o conhecimento da realidade nacional da doença, cuja dimensão esteve sempre subnotificada. Quatro meses sem aprovação é "um compasso de espera inaceitável", considerou. No balanço da actividade da CNLCS no último ano e meio, Meliço-Silvestre imputou as falhas no combate à sida à "instabilidade do Portugal político". "Estamos conscientes que não fizemos tudo bem. Mas, perante esta instabilidade, quem o faria?".

Em 2004, do orçamento de 10 milhões de euros foram gastos 7,5 milhões. A grande fatia (48%) foi para a promoção da saúde e prevenção da doença, tendo sido distribuídos 7,5 milhões de preservativos. Foram ainda gastos 1,1 milhões no programa de troca de seringas, em colaboração com as farmácias, permitindo fornecer 32.846.581 novas seringas.

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