terça-feira, fevereiro 15, 2005

Há apenas 106 especialistas para 24 mil doentes registados

JN 11.02.05

Os mais de 24 mil doentes notificados como sendo portadores deVIH têm ao seu dispor apenas 106 médicos infecciologistas. A situação é mais grave tendo em conta que a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida admite a existência de mais de 40 mil doentes, o que dá uma média de cerca de 400 doentes por infecciologista disponível. Especialistas brasileiros e espanhóis estão a ser recrutados por todo o País para fazerem face à escassez de médicos.

A situação é preocupante em Portugal ao ponto da Ordem dos Médicos ter já alertado repetidas vezes para o facto de "não haver uma apetência dos clínicos recém formados em optar pela especialidade de infecciologia", disse o ex- bastonário da Ordem dos Médicos, Germano de Sousa.

Como causa directa desta falta de apetência está, de acordo com o director clínico de um hospital da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, "a escassez de saídas profissionais e o facto da infecciologia lidar com os chamados 'doentes pesados' com grandes dificuldades de solução para as suas patologias".

Entre estes doentes estão os portadores de HIV. A maioria dos casos, de acordo com os dados da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida (CNLS), começam a ser diagnosticados "muito tarde" , o que leva a que a progressão da doença tenha dificuldades em ser travada.

O coordenador da CNLS, Meliço Silvestre, citado pela agência Lusa, manifestou-se preocupado com a carência de infecciologistas, mas revelou-se confiante no tratamento que outras especialidades dão às várias vertentes do VIH. "Temos colegas [médicos] de outras áreas de formação como pneumologia, medicina interna ou pediatria, com muita qualidade e que estão preparados para o tratamento destes doentes", disse.

Também o actual Bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, esclarece que a carência de especialistas é uma realidade nacional e confessa-se preocupado com a situação. Segundo Pedro Nunes, quando apareceu a sida nos anos 80, a dimensão do fenómeno não foi imediatamente reconhecida e desde então o papel do infecciologista foi crescendo, mas houve uma reacção tardia na formação destes especialistas. Pedro Nunes considera que esta falta vai sentir-se nos próximos dez anos e que, só depois disso, é que existirão médicos em número suficiente.

Para a associação ABRAÇO, a maioria dos hospitais consegue esconder as suas dificuldades de atendimento arranjando desculpas esfarrapadas. Ora dizem que não têm medicação disponível; ora invocam situações de urgência para adiar consultas. Quando, efectivamente, o que eles têm é falta de pessoal", salientou Margarida Martins, dirigente daquela associação.

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