segunda-feira, abril 23, 2007

A falsa descoberta do vírus da sida

Público 23.04.07

A 23 de Abril de 1984, o americano Robert Gallo, eminente investigador do National Cancer Institute em Bethesda, EUA, fez uma declaração bombástica em conferência de imprensa: tinha descoberto o vírus responsável pela sida, na altura uma nova doença. Gallo disse que o tinha baptizado de HTLV-3 e que o vírus pertencia à família dos vírus de leucemias humanas (HTLV) por ele descobertos uns anos antes. Porém, quando mostrou fotografias do "seu" vírus, tornou-se óbvio que este nada tinha a ver com os HTLV. A explicação desta discrepância - que daria origem a uma controvérsia de anos em torno da paternidade da descoberta do HIV, o vírus da sida - é hoje bem conhecida.

Mas para esclarecer o assunto, foi preciso um inquérito interno, em 1990, ao laboratório de Gallo. Acontece que o vírus que Gallo pretendia em 1984 ter descoberto tinha sido isolado, em Janeiro de 1983, pela equipa de Luc Montagnier, no Instituto Pasteur, em Paris - que tinha publicado oficialmente o resultado na Science em Maio. Mas como é que esse vírus tinha ido parar às amostras americanas? Simplesmente, Montagnier tinha enviado amostras do seu vírus, na altura baptizado LAV ("vírus associado às linfadenopatias"), para vários laboratórios, entre os quais o de Gallo. E como o inquérito de 1990 viria a provar, o LAV tinha contaminado as amostras de HTLV-3. Ou seja, quando Gallo mostrou fotos do que pensava ser o seu vírus HTLV-3, estava a exibir o LAV dos franceses. A versão oficial é que o terá feito inadvertidamente.

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