segunda-feira, outubro 23, 2006

Médicos contra distribuição de remédios para sida e cancro nas farmácias

Público 23.10.06

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O projecto de distribuir remédios para a sida e o cancro nas farmácias "já é antigo", lembra o bastonário, frisando que uma comissão criada no tempo do anterior ministro já o tinha vetado. "Esse parecer existe no ministério. Se [Correia de Campos] quiser uma cópia, dou-lho", disse ao PÚBLICO, frisando que esta comissão integrava representantes do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento, da Ordem dos Farmacêuticos e que na altura foram ouvidos especialistas em anti-retrovirais e membros das associações de doentes.

Quebra de anonimato
Convencido de que o ministro "vai fazer marcha-atrás" quando se aperceber das implicações da medida, Pedro Nunes defende que Correia de Campos apenas quis dar "uma espécie de compensação" à Associação Nacional de Farmácias, que está "zangada" com a nova descida de seis por cento do preço dos medicamentos.

No congresso, o ministro anunciou que as farmácias passariam então a fornecer estes medicamentos "poderosos, agressivos, essenciais e dispensiosos" e assegurou que serão salvaguardados valores como "o controlo por toma presencial, o registo individual para se conhecer a adesão à terapêutica e a comunicação ao hospital onde o doente se encontra em tratamento". Mas não explicou como.

O problema é que muitos destes medicamentos têm interacções com outros fármacos que podem ser perigosas e, enquanto nos hospitais é um farmacêutico que trata da questão, nas farmácias os doentes são muitas vezes atendidos por auxiliares ou ajudantes, sem capacidade para fornecer aconselhamento e cuidar da adesão à medicação, adverte o especialista na área VIH/sida do Hospital dos Capuchos (Lisboa), Eugénio Teófilo.

Também Mota Miranda, infecciologista do Hospital de São João, considerou, em declarações à Rádio Renascença, que esta medida só poderia avançar se nas farmácias houvesse funcionários que garantissem a correcta administração dos medicamentos contra doenças infecto-contagiosas.

Eugénio Teófilo chama ainda a atenção para outro problema: o da identificação e conotação com a sida. "Se o doente for à farmácia do bairro levantar os anti-retrovirais", fica em causa o anonimato.

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