segunda-feira, setembro 25, 2006

Grupo de Activistas sobre os Tratamentos VIH/Sida vai propor criação de salas de injecção assistida no São João de Deus

"O Porto é uma cidade em que é absolutamente prioritário criar salas de injecção assistida." É com base nesta convicção que o GAT - Grupo de Activistas sobre os Tratamentos VIH/Sida, está a preparar um projecto de criação de salas de injecção assistida para apresentar ao presidente da Câmara do Porto, Rui Rio. "Assim que concluirmos o projecto, vamos começar a fazer pressão e pedir uma audiência, porque a posição conservadora que o autarca tem assumido não ajuda a resolver os problemas relacionados com a droga", adiantou Luís Mendão, do GAT.

Falando ao PÚBLICO no dia em que a Câmara de Lisboa discutia a criação de uma "sala de chuto" no concelho, Luís Mendão referenciou o Bairro de São João de Deus, como um dos locais onde é "absolutamente prioritária uma instalação deste tipo, cuja eficácia está demonstrada à saciedade".

"As salas de chuto existem em 40 cidades europeias e têm ajudado a aproximar dos serviços de apoio e de saúde pessoas que, de outra maneira, nunca chegariam lá", frisa o responsável do GAT, para quem as virtualidades das "salas de chuto" abarcam a população em geral tanto quanto o universo de toxicodependentes.

"Numa sala de consumo higiénico, as pessoas estão num contexto mais seguro e protegido do juízo social e concorrem também para a limpeza e desguetização dos locais de consumo", concorda Marta Pinto, investigadora e membro das equipas de redução de danos associados à toxicodependência, com trabalho em vários bairros do Porto. "Todos nos sentiremos mais à vontade para passear num bairro onde não existam pessoas a injectar-se no chão", reforça, lembrando que "o Porto tem vários focos de contaminação de doenças infecto-contagiosas que urge combater".

Basta olhar em volta. "A cidade tem várias salas de consumo a céu aberto e, como sabemos, uma agulha abandonada no chão é um meio de propagação de doenças", acrescenta Marta Pinto. Acresce que "muitos toxicodependentes consomem em locais insalubres, fechados e sem arejamento, que oferecem condições excelentes para a propagação do bacilo da tuberculose, por exemplo".

Quase 2000 seringas por dia no São João de Deus

"O Bairro de São João de Deus troca entre 1800 a 2000 seringas por dia", quantifica Luís Fernandes, outro especialista em comportamentos desviantes. No Bairro do Cerco, por outro lado, "chegam a trocar-se 300 seringas numa hora". "Isto dá-nos uma ideia clara do número de pessoas que chutam nos bairros, em condições que podiam ser melhoradas", sustenta o investigador, para quem, "ao retirar o fenómeno das ruas, está-se também a desfazer a percepção daqueles locais como perigosos e a melhorar a vida das pessoas que, enquanto cidadãs, têm o direito de serem preservadas destas imagens que estão quase pornografizadas".

Cansado de constatar o que considera ser o falhanço das medidas repressivas, o especialista diz que as "salas de chuto" são muito mais do que locais de consumo assistido. São antes "um patamar para a reinserção de muitos toxicodependentes", refere, baseando-se nas experiências feitas, por exemplo, em Espanha. "Bilbau já tem uma sala de chuto, Barcelona tem três. E está claro de perceber que ao minimizarmos os riscos associados ao consumo estamos também a poupar muito dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde", sublinha."

A Câmara do Porto contrariou a tendência da aposta nos programas de redução de riscos e voltou a apostar na repressão, cujas estratégias não resolvem o problema", corrobora Marta Pinto, para concluir que a possibilidade de as autarquias darem o pontapé de saída nas "salas de chuto" constitui uma oportunidade imperdível para que "Portugal deixe de ter as prisões cheias de toxicodependentes e dos mais altos níveis de contágio do HIV".

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