sexta-feira, dezembro 01, 2006

GAT fala à Agência Lusa

Lusa 30.11.06

Infecção por VIH/sida atinge 60 mil portugueses

Portugal deverá ter cerca de 60 mil pessoas infectadas pelo VIH/sida, muito acima dos 29 mil conhecidos, e é o único país europeu em que a mortalidade pela doença permanece sem descer, acusa uma associação de doentes.

Em entrevista à agência Lusa, Luís Mendão, da direcção do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida (GAT) - Pedro Santos, justificou a diferença entre a sua estimativa e os números oficiais com a subnotificação do diagnóstico, a sua realização tardia e com o facto de existir "sempre uma percentagem elevada da população que não sabe que é seropositiva".

De acordo com o último balanço sobre a situação da infecção pelo VIH/sida em Portugal, feito pelo Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis (CVEDT), do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, estavam notificados, até 30 de Junho deste ano, 29.461 casos.
A agência das Nações Unidas para a Sida estima um número superior de pessoas infectadas em Portugal, situando-o nos 32 mil casos.

Para os 60 mil infectados pelo VIH que o GAT aponta existirem em Portugal contribuem igualmente as 289 novas infecções registadas anualmente no país, segundo Luís Mendão.
"Em Espanha, os casos novos anuais são um terço dos portugueses", lamenta o dirigente do GAT, salientando que, segundo a Organização Mundial de Saúde, "Portugal só tem comparação com a Estónia, Ucrânia e Rússia, em toda a Europa".

Mas a nebulosidade dos números portugueses sobre a infecção pelo VIH/sida não diz apenas respeito às pessoas infectadas. Mesmo a informação sobre os que se encontram em tratamento revela surpresas.

"Havia indicações de que deveriam existir entre oito a dez mil doentes em tratamento", relatou Luís Mendão, pelo que a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida solicitou aos hospitais que atendessem mais de 400 doentes que enviassem o número exacto dos que estavam em tratamento.

"Apareceram 16 mil doentes seguidos", declarou Luís Mendão.

Em matéria de números elevados, Portugal aparece também nas piores esta tísticas da mortalidade associada à infecção, pois "é o único país da Europa onde a principal causa de morte para homens entre os 24 e os 39 anos é a sida", realçou Luís Mendão.

Segundo o dirigente do GAT, enquanto nos restantes países europeus a mortalidade começou a descer a partir de 1996, com a introdução da terapia combinada, em Portugal essa queda ocorreu depois de 1998 mas, não foi consistente: depois de 1998/1999 a taxa de mortalidade associada à infecção "ficou em planalto".

Quanto a motivos, Luís Mendão enumera: "não há boas práticas de adesão à terapêutica [por parte dos pacientes], provavelmente não há bom controlo das práticas de prescrição e os doentes chegam aos hospitais muito tarde, nomeadament e as pessoas que estão fora do sistema de saúde".

"Pode também ter a ver com a incidência da tuberculose e da hepatite C, que são muito altas entre os doentes com VIH, que torna o tratamento muito mais complexo", adiantou Luís Mendão.

Segundo o CVEDT, entre 1983 e 2006 morreram 25 por cento dos doentes no tificados (7.451) e, desde 2002, tem vindo a decrescer o número de casos diagnos ticados anualmente notificados, bem como o número de mortos em cada ano.

O GAT - Pedro Santos foi fundado em 2001 por pessoas seropositivas e seus familiares e tem como principal objectivo divulgar informação sobre os tratamentos para a infecção VIH/Sida, tanto junto dos doentes, como dos decisores políticos.

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