sexta-feira, abril 22, 2005

Portugal "exporta" VIH através de imigrantes africanos e do Leste europeu

Lusa 19.04.05

Portugal está a "exportar" o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) através de imigrantes infectados que contaminam as parceiras com sub-tipos que só existem em território português quando visitam o país de origem, revelou hoje um virologista.

A informação foi avançada por Ricardo Camacho, virologista do Hospital Egas Moniz e autor do estudo SPREAD ("Strategy to Control SPREAD of HIV Drug Resistance") que visa avaliar a transmissão de variantes do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) 1 resistentes aos medicamentos. Ricardo Camacho falava durante uma sessão de trabalho sobre o VIH, que decorreu no Oceanário de Lisboa.

Segundo as conclusões da primeira fase deste estudo, a maioria dos portugueses infectados com o VIH contraiu a infecção em Portugal. Por seu lado, os imigrantes também são infectados em Portugal e, em muitos casos, levam o vírus para os países de onde são oriundos, onde infectam as parceiras, que descobrem que estão seropositivas durante o parto.

Segundo as conclusões do "Spread", um estudo que inclui 17 países da União Europeia, mais a Jugoslávia, e que em Portugal investigou 180 doentes com o VIH que são seguidos em 22 hospitais, 65 por cento dos portugueses foram infectados em Portugal.

A investigação, que se realizou em 2003, concluiu que 40 por cento dos imigrantes estudados - oriundos de países africanos e do Leste europeu - contraiu a infecção em Portugal.
Uma das provas dessa infecção em território português é o sub- tipo do VIH com que estes imigrantes foram infectados, que só existe em Portugal. No entanto, esse sub-tipo está a ser "exportado" de Portugal para os países de origem dos imigrantes através dos contactos sexuais destes quando visitam a família.

Segundo Ricardo Camacho, a maior parte das infecções por VIH em Portugal (42 por cento) têm o sub-tipo B e 29 por cento o sub-tipo G, este último a crescer em Portugal. O virologista está preocupado com nove por cento dos sub-tipos identificados nos doentes estudados no âmbito do SPREAD, que correspondem a doentes infectados e que, entretanto, foram reinfectados com outras variantes do VIH, resultando num "vírus mosaico" e, por isso, mais difícil de combater.

A resistência aos medicamentos é um dos maiores desafios dos especialistas, estimando-se que 26 por cento dos doentes sob tratamento médico em Portugal apresente resistência a estes fármacos.

Outro dado igualmente preocupante e identificado no estudo destes doentes é o estado avançado da infecção que apresentam quando são diagnosticados. "Em Portugal os doentes são diagnosticados mais tarde do que nos outros países europeus, o que significa que estiveram infectados mais tempo e com maiores hipóteses de transmitir a doença", explicou Ricardo Camacho.

O VIH é cada vez menos um vírus de gente nova, conforme frisou o especialista.
A idade média dos seropositivos ao VIH é 35 anos e o vírus atinge cada vez mais mulheres. No início da infecção (anos 80), existia 90 por cento de homens infectados para 10 por cento de mulheres, mas actualmente o VIH atinge 69 por cento dos homens e 31 por cento das mulheres.

Em relação à via de transmissão, os heterossexuais estão em maioria (55 por cento), seguidos dos homossexuais (18 por cento), dos utilizadores de drogas endovenosas (20 por cento) e das transfusões (um por cento).

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