terça-feira, março 29, 2005
Rastreio nacional do VIH/sida não inclui análise à hepatite C
"Uma oportunidade perdida". É assim, com amargura, que um dos mais reputados hepatologistas nacionais, Rui Tato Marinho, reage ao facto de não estar previsto que o primeiro rastreio nacional para o HIV, no qual quase dez mil pessoas serão inquiridas e testadas, seja aproveitado para aferir também da prevalência da infecção por hepatite C. "A não inclusão da hepatite C significa que continuam a considerá-la um parente menor das doenças infecciosas crónicas."
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Val Neto, da associação SOS Hepatites, faz suas as palavras do especialista. "É um absurdo, um desperdício. Este rastreio podia poupar vidas. E muito dinheiro. Não só por alertar as pessoas que seriam diagnosticadas para a necessidade de tratamento, mas sobretudo porque permitiria saber a real dimensão do problema, e efectuar um plano de acção de acordo com isso." Também o infecciologista Luís Tavares se espanta com o que lhe surge como "descoordenação na gestão dos recursos, num país em que eles não abundam".
Certo é que quando a CNLCS rastreou os universitários portugueses para o HIV, aproveitou o ensejo para testar os voluntários para outras infecções, como a hepatite C e a sífilis. A infecção por HCV, o vírus da hepatite C, revelou ser a mais expressiva entre os testados. Mas, explicou ao DN o presidente da CNLCS, António Meliço-Silvestre, a decisão de desta vez não incluir a análise à hepatite C tem a ver com o facto de "se irem utilizar testes rápidos para o HIV, que se fazem só com uma picada no dedo". Estes testes, já utilizados no rastreio universitário, permitem saber o resultado em, no máximo, 60 minutos. A análise à hepatite C, para a qual não existem testes equivalentes, "implicaria recolha de grande quantidade de sangue, para análise posterior em laboratório".
O rastreio, que se deveria ter iniciado em Março - mas, segundo Meliço-Silvestre, foi adiado devido à mudança de Governo - efectuar-se-á por meio de visitas a casas seleccionadas por amostragem. Os respectivos ocupantes serão submetidos a um inquérito e a um teste, ambos opcionais. A cada teste será atribuído um código de barras, através do qual o testado poderá indagar o resultado no Centro de Aconselhamento e Detecção de HIV mais próximo. Não foi possível saber quanto se gastou até agora no planeamento do rastreio, que aguarda o OK do novo ministro.