sexta-feira, novembro 24, 2006
Habemus sexo, não preservativo
DN 24.11.06
Não se esperam decerto milagres do Vaticano - instituição vocacionada para os validar, não para os operar - e muito menos sobre temas "fracturantes". Mas a atenção, ainda que tão tardia, da hierarquia católica para a questão do uso do preservativo na perspectiva da prevenção do HIV-sida, tema do simpósio que decorre desde ontem em Roma, talvez possa inspirar aqueles que, católicos, ateus ou outra coisa qualquer, pelo mundo fora e em Portugal em particular, acham que isto da sida é uma coisa de somenos, que não justifica a maçada de desenrolar um preservativo.
As consequências desta atitude, que chegou em alguns meios ao ponto de se transformar numa espécie de "filosofia de vida" que faz do sexo sem protecção uma roleta russa, estão plasmadas nos números que a Onusida apresentou esta semana. Enquanto na zona catástrofe da África subsariana se começa a verificar uma estabilização da epidemia em países que apostaram forte na promoção do preservativo e na educação sexual (o Brasil é outro exemplo de sucesso na também muito afectada América do Sul), na Europa ocidental e nos EUA um cocktail explosivo de pseudo-sofisticação, inconsciência e preconceitos - no qual avulta a ideia, criada pela disponibilidade de tratamentos, de que a sida se transformou numa doença "crónica", da qual já não se morre (o que é obviamente falso) - está a resultar na ameaça do "regresso" da epidemia.
O aumento exponencial de novos diagnósticos de HIV, por toda a Europa (mais 68% no País entre 2001 e 2006), em homens que têm sexo com homens é sinal dessa nova atitude de "descontracção" e até de "desafio" em relação ao HIV, uma atitude que numa realidade como a portuguesa convive com hábitos e preconceitos do tempo da maria cachucha. A grande explosão de diagnósticos dos últimos anos é nas mulheres, sobretudo nas com mais de 50 anos. Muitas "culpadas" de um único comportamento de risco, o de terem sexo desprotegido com um único homem- aquele com quem partilharam a vida, não raro nos laços do sagrado matrimónio. E isto num país em que a maioria se diz, sem hesitar, católica, e tanto incensa o valor da vida. Que o seu deus lhes perdoe.
Não se esperam decerto milagres do Vaticano - instituição vocacionada para os validar, não para os operar - e muito menos sobre temas "fracturantes". Mas a atenção, ainda que tão tardia, da hierarquia católica para a questão do uso do preservativo na perspectiva da prevenção do HIV-sida, tema do simpósio que decorre desde ontem em Roma, talvez possa inspirar aqueles que, católicos, ateus ou outra coisa qualquer, pelo mundo fora e em Portugal em particular, acham que isto da sida é uma coisa de somenos, que não justifica a maçada de desenrolar um preservativo.
As consequências desta atitude, que chegou em alguns meios ao ponto de se transformar numa espécie de "filosofia de vida" que faz do sexo sem protecção uma roleta russa, estão plasmadas nos números que a Onusida apresentou esta semana. Enquanto na zona catástrofe da África subsariana se começa a verificar uma estabilização da epidemia em países que apostaram forte na promoção do preservativo e na educação sexual (o Brasil é outro exemplo de sucesso na também muito afectada América do Sul), na Europa ocidental e nos EUA um cocktail explosivo de pseudo-sofisticação, inconsciência e preconceitos - no qual avulta a ideia, criada pela disponibilidade de tratamentos, de que a sida se transformou numa doença "crónica", da qual já não se morre (o que é obviamente falso) - está a resultar na ameaça do "regresso" da epidemia.
O aumento exponencial de novos diagnósticos de HIV, por toda a Europa (mais 68% no País entre 2001 e 2006), em homens que têm sexo com homens é sinal dessa nova atitude de "descontracção" e até de "desafio" em relação ao HIV, uma atitude que numa realidade como a portuguesa convive com hábitos e preconceitos do tempo da maria cachucha. A grande explosão de diagnósticos dos últimos anos é nas mulheres, sobretudo nas com mais de 50 anos. Muitas "culpadas" de um único comportamento de risco, o de terem sexo desprotegido com um único homem- aquele com quem partilharam a vida, não raro nos laços do sagrado matrimónio. E isto num país em que a maioria se diz, sem hesitar, católica, e tanto incensa o valor da vida. Que o seu deus lhes perdoe.