quarta-feira, novembro 30, 2005

O amor, o prazer e o preservativo


Coordenação da Infecção quer promover teste ao VIH/Sida

É uma pena que as ONGs da área não foram consultadas na preparação desta campanha, mais uma vez...



Lusa 30.11.05

A promoção do teste VIH/Sida, o papel e reconhecimento da sociedade civil e a educação para a saúde dos jovens são as ideias fortes do Alto Comissariado da Saúde para o Dia Mundial de Luta Contra a Sida, quinta-feira. Fonte da Coordenação da Infecção VIH/Sida - Alto Comissariado da Saúde adiantou à Agência Lusa que "o diagnóstico da infecção VIH/Sida é fundamental para uma estratégia consistente e eficaz de prevenção da doença".

"Em termos de prevenção primária, o conhecimento da condição de seropositividade para o VIH confere ao indivíduo a possibilidade de alterar comportamentos que possam colocar outros em risco", segundo a mensagem deste organismo que foi recentemente empossado pelo ministro da Saúde. A detecção precoce permite, em termos de prevenção secundária, "iniciar o tratamento numa fase inicial da infecção, aumentando a qualidade e a esperança de vida do indivíduo, além de que o conhecimento da condição permite adoptar comportamentos protectores do seu estado de saúde, como seja evitar o risco de uma re-infecção".

Segundo a Coordenação de Infecção VIH/Sida (CNSIDA), dirigida pelo epidemiologista Henrique Barros, "o conhecimento real da infecção permite, a nível comunitário, mobilizar recursos e respostas adequadas, reduzir a negação, estigma e descriminação que rodeiam a infecção VIH".
Este organismo alerta para as "várias barreiras" que são colocadas ao desenvolvimento de uma estratégia de diagnóstico a "populações especialmente vulneráveis, nomeadamente as populações migrantes, utilizadores de drogas injectáveis, profissionais do sexo e consumidores de sexo pago, e homens que têm sexo com homens".

"O reconhecimento da promoção do teste como peça chave para a prevenção da infecção" levou a Coordenação de Infecção VIH/Sida ao "desenvolvimento desta iniciativa pela divulgação do Centro de Aconselhamento ao Doente (CAD) móvel de Lisboa". Neste evento, será privilegiada a população imigrante residente em Portugal.

Sobre o papel e reconhecimento da sociedade civil, a tutela realça as várias organizações não governamentais que "prestam, há largos anos, apoio a estas comunidades", através de serviços variados e "estabelecendo relações de confiança, que poderão ser estendidos ao aconselhamento e teste VIH, sempre que possível, em articulação com as estruturas formais de saúde".
A Coordenação de Infecção VIH/Sida defende que, em zonas onde a população residente apresente uma diversidade étnica significativa, "os serviços de saúde devem ter esse aspecto em conta na organização e prestação dos serviços".

Em relação aos mais jovens, este organismo refere que, "devido ao estilo de vida, os jovens constituem um importante grupo para a intervenção comunitária".

"Os seus padrões de actividade sexual, as mudanças anatómicas e fisiológicas e o abuso de drogas, são alguns dos factores que contribuem para aumentar o estatuto de risco dos jovens", segundo o organismo.

"Além do facto da maioria dos adolescentes ter sexo desprotegido, não tendo a noção do risco, sabe-se que o baixo nível socio-económico é indicador de menor utilização de preservativo".
Para a CNSIDA, "os programas isolados de educação no âmbito do VIH/Sida ainda não foram capazes de responder a este problema, tendo pouco impacto nas alterações comportamentais dos adolescentes".

A Coordenação considera que "a eficácia da luta contra doenças relacionadas com comportamentos de risco, como a sida, impõe que as acções de prevenção, além de informar, tenham como preocupação a cultura de valores, auto estima, sentido de responsabilidade, respeito por si e pelo outro e o desenvolvimento de capacidades de escolha, de decisão e de autonomia".

Em Portugal, estima-se que o número de infectados pelo VIH/Sida entre Janeiro de 1983 e Junho passado ronde os 27.000 [só!?!].

UE apoia investigação em nove milhões de euros, dois candidatos a vacina

Lusa 30.11.05

A União Europeia vai financiar em nove milhões de euros quatro projectos de investigação na área da infecção pelo VIH/Sida, dos quais dois são candidatos a vacinas, que vão entrar na primeira fase de ensaio clínico. De acordo com um comunicado da União Europeia (UE) divulgado segunda-feira, o financiamento atribuído aos dois candidatos a vacinas é de 2,6 milhões de euros, cabendo 6,4 milhões de euros a dois projectos que apostam em abordagens inovadoras para desenvolver meios de prevenção contra a infecção.

Na região europeia, e segundo os últimos dados da ONUSida, o programa das Nações Unidas contra a infecção pelo VIH/Sida, a doença atinge 2,3 milhões de pessoas.
(...)

Associações na área do VIH/SIDA, Hepatites e Reforma das Políticas de Drogas apoiam declaração do Presidente do IDT

Associações na área do VIH/SIDA, Hepatites e Reforma das Políticas de Drogas apoiam declaração do Presidente do IDT e pedem compromissos concretos e calendarização do projecto.

Ao Presidente do IDT
Ao Presidente da República
Ao Ministro da Saúde
Ao Coordenador da CNsida
Aos Presidentes das Câmaras Municipais de Lisboa, Porto, Setúbal, Gaia, Oeiras, Cascais e Sintra

"Pretendemos instalar salas de injecção assistida em zonas onde esses consumos [de droga por via injectável] se efectuam em condições de extrema degradação
De acordo com o despacho da Agência Lusa de 25 de Novembro de 2005, o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, defendeu [hoje] a instalação de salas de injecção assistida, nomeadamente em Lisboa e no Porto, como alternativa às "salas de chuto em cena aberta".

Salas de consumo: razões e objectivos
As salas de consumo são estruturas dos serviços de saúde criadas para promover e facilitar os contactos e a aproximação com populações específicas de consumidores de drogas em situações de grande risco sanitário, nomeadamente as que consumem drogas injectáveis na via pública.

As enormes carências de cuidados de saúde destas populações não podem ser resolvidas por outros serviços de saúde e constituem um problema para as comunidades locais que, como todos reconhecem, nem os programas sociais e de saúde, nem as polícias têm conseguido ou conseguirão resolver.

As salas de consumo, ou de injecção assistida pretendem dar resposta e resolução aos problemas destas populações e têm como principais objectivos:
- Estabelecer pontos de contacto com as populações de utilizadores de drogas mais problemáticas;
- Promover o acesso a serviços sociais, de saúde e tratamento de drogas;
- Fornecer um ambiente seguro e higiénico para o consumo de droga a fim de reduzir:
> o consumo público de drogas e problemas sociais associados;
> a transmissão de VIH, hepatites e infecções bacterianas;
> a mortalidade e morbilidade associada às overdoses no consumo de drogas.

De acordo com a informação do Observatório Europeia da Droga e das Toxicodependências (OEDT) existem, na Europa, 73 salas de consumo em 40 cidades. A primeira abriu em 1986, em Berna, e a última em Oslo. Existem também salas de consumo no Canadá e na Austrália.

A situação em Portugal, onde mais de 40.000 utilizadores problemáticos de drogas estão fora dos centros de tratamento e se registam, nos utilizadores de drogas injectáveis, as taxas mais altas da Europa de incidência e prevalência de VIH e Hepatites, exige que a proposta do Presidente do IDT, seja rapidamente assumida e concretizada por todas as entidades públicas com competências na matéria.

As organizações abaixo listadas consideram que, para que o projecto das salas de consumo não fique no rol imenso das promessas anunciadas e nunca concretizadas, deve ser de imediato definido um calendário de implementação e manifestam a sua disponibilidade para serem consultadas e acompanharem todas as fases de desenvolvimento do projecto.

1 de Dezembro de 2005, Dia Mundial da Sida

Assinam:
ABRAÇO – Associação de apoio a pessoas com VIH/SIDA
Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a SIDA”
GADS – Grupo de Apoio e Desafio à SIDA
GAT – Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA
MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da SIDA
Positivo – Grupos de Apoio e Auto-Ajuda
SOMA – Associação Portuguesa Anti-Proibicionista
Associação Grupo de Apoio SOS Hepatites Portugal

Um caso de sucesso na luta contra a Sida


João Semedo

Infelizmente, o futuro do Hospital Joaquim Urbano está ameaçado. Tinha que ser. Um caso de sucesso em Portugal não pode durar muito tempo...

Antena 1 30.11.05

Os números de infectados com VIH/Sida são preocupantes, quer para os responsáveis pela saúde quer para o cidadão comum. No primeiro semestre de 2005 Portugal registou 321 casos de infectados com VIH/Sida.

Os números são da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida. Na véspera do Dia Nacional de Luta Contra a Sida ainda há, pelo menos um caso de sucesso, no tratamento. O Centro de Terapêutica Combinada (doentes toxicodependentes com Sida) do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, que regista uma taxa de 90 por cento de doentes que não abandona a medicação.

Em declarações à Antena 1 o director do Hospital Joaquim Urbano (HJU), o médico João Semedo, disse que só este ano o seu hospital "ultrapassou os três mil e quinhentos doentes infectados com VIH/Sida diagnosticados e tratados". Este facto dá aos profissionais de saúde do Joaquim Urbano "particulares responsabilidades" no plano da assistência clínica e da assistência médica: "Nós procuramos ir um pouco mais longe e reconhecemos que um hospital público deve também ter um compromisso de cidadania, um compromisso cívico, por isso nós temo-nos associado, todos os anos, ao Dia Mundial de Luta Contra a Sida".

Esta quinta-feira o hospital abre um roteiro histórico "uma reposição de memórias do hospital" - Uma exposição fotográfica "lugares, pessoas, rotinas e momentos - HJU: imagens da memória, pontes para o futuro"; Salas museu, reconstituindo antigas instalações do hospital (farmácia, gabinete médico, escritório); Mostra de equipamentos hospitalares do passado.

Na sexta-feira realiza-se uma reunião para discussão do Centro de Terapêutica Combinada (CTC) com o presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), João Goulão. Este Centro é uma parceria entre o HJU e o IDT e foi consagrado no Plano Nacional de Saúde como um formato de assistência a doentes toxicodependentes e portadores de infecção HIV/Sida "que deveria ser generalizada a outras unidades hospitalares", considera João Semedo.

"Este Centro, actualmente, é o único que existe no país e pela excelência dos resultados que tem demonstrado e que se traduzem numa elevadíssima taxa de adesão dos doentes ao programa terapêutico. Aliás, que é condição de sucesso de tratamento de VIH/Sida". Este médico disse à Antena 1 que a adesão ao tratamento ultrapassa os 90 por cento, quando nas modalidades mais convencionais de tratamento não chega aos 50 por cento.

"É um sucesso muito grande, desse ponto de vista, e vamos avaliá-lo nesta reunião, tanto mais que acabámos de renovar o protocolo com o IDT", disse João Semedo que acrescentou ainda que "o protocolo está redigido numa perspectiva de no futuro o HJU prosseguir este trabalho em conjunto e levá-lo a maior número de doentes. Esse é o nosso compromisso e esse é o sentido das nossas comemorações. Um sentido cívico de alertar a sociedade, a opinião pública, as autoridades, os responsáveis governamentais, para a necessidade de encarar de frente esta chaga dos tempos modernos que tantos jovens e tantos portugueses tem vitimado nos últimos 20 anos".

João Semedo alerta para o facto de o problema da Sida não estar nos hospitais: "Não há listas de espera, em Portugal, nos hospitais para os doentes se tratarem. O problema da Sida está, fundamentalmente, antes e depois do hospital". Antes, explicou o médico, "no que diz respeito à identificação de todos os infectados. Há muitos infectados que não estão ainda notificados".

Depois, "trabalhar para promover a máxima adesão dos doentes à terapêutica e assegurar os cuidados continuados, cuja rede em Portugal não existe, particularmente para estes doentes". Este médico disse ainda à Antena 1 que o principal problema está relacionado com "a política de prevenção, de informação, e de mudança de comportamentos".

Vereador da Acção Social acompanha equipas de rua em Lisboa na luta contra a sida

Tentámos ser convidados também mas não éramos ben-vindos...

Lusa 29.11.05

O vereador da Acção Social da Câmara de Lisboa, Sérgio Lipari Pinto, vai acompanhar, quarta-feira à noite, equipas de rua que trabalham na prevenção do HIV/Sida, no âmbito do Dia Mundial da Luta contra a doença, assinalado quinta-feira. Em comunicado hoje divulgado, o gabinete do vereador responsável pela Acção Social anunciou que, com esta iniciativa, Sérgio Lipari Pinto pretende "sentir um dos muitos problemas que a cidade enfrenta".

A partir da meia-noite de quarta-feira, o vereador vai percorrer algumas ruas de Lisboa, acompanhando equipas de rua que trabalham na intervenção e prevenção do HIV/Sida.

Na visita irão participar representantes da Comissão Nacional da Luta contra a Sida, Fundação Portuguesa "A Comunidade contra a Sida", Liga Portuguesa contra a Sida, Abraço, Positivo e Sol.
"Contribuir para o recrudescimento do HIV/Sida, melhorar a saúde pública e o bem-estar dos munícipes são objectivos que presidem a uma estratégia de prevenção na nossa cidade", adianta a autarquia lisboeta no comunicado.

As promessas dos governos




AIDS: Promises, promises…
But how many get delivered?


World AIDS Campaign calls for greater accountability of leadership


AMSTERDAM, 29 NOVEMBER, 2005: Governments and international agencies are coming under unprecedented pressure to answer for the specific HIV and AIDS commitments and promises they have made.

In a new report[1][1], the World AIDS Campaign (WAC) closely examines AIDS statements, commitments and declarations by governments and the United Nations (UN) in the past five years, and asks how they hold up under scrutiny as genuine ‘promises’.

With AIDS at the end of its first quarter-century, the epidemic isn’t going away – and despite good intentions, its impact continues to grow in all countries. ‘Stop AIDS. Keep the Promise’, the rallying theme of the WAC, recognises the growing gap between what governments say they will do about HIV and AIDS, and what they actually achieve.

“We have been asked to stomach year after year of rhetorical statements disguised as commitments on AIDS,” said WAC Executive Director, Marcel van Soest. “The litany of broken promises now rings hollow against the unrelenting advance of the epidemic throughout the world.”

The new WAC report – titled ‘Promises, Promises…’ – argues that the most significant AIDS promises were made during a special session of the UN General Assembly in June 2001. The meeting produced the UNGASS Declaration of Commitment on HIV/AIDS, which was solemnly adopted by all 189 Member States of the UN. Progress against the 2001 commitments is currently under review and will be presented in mid-2006.

With hindsight, the WAC report argues, many previous HIV and AIDS declarations that were seen at the time as commitments and promises, simply restate the current understanding of the epidemic, and avoid committing to concrete deliverables.

“While the EU statement today from Tony Blair is broadly welcomed as an expression of political commitment, especially given the expansion of the union,” suggested van Soest, “it contains little by way of specific promises or timetables on what European governments will achieve and, more importantly, when.”

When the G8 meeting and UN World Summit earlier this year committed to scale-up HIV prevention, treatment, care and support services, “with the aim of coming as close as possible to the goal of universal access to treatment by 2010 for all those who need it,” they carefully avoided making watertight promises and no road map was put forward as to how this goal would be achieved.

“As a result of previous disappointments, there is a greater call for AIDS accountability, and the volume is getting louder” said van Soest. “It is being spearheaded by more effective civil society advocacy and campaigning that increasingly challenges governments and the non-profit sector, using previous AIDS commitments and promises as benchmarks.”

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The goal of the WAC is to energise and support an effective and sustained response to the AIDS epidemic. By helping partners to work together at national and international level, we will broaden the partnership of those shaping the response to AIDS. Crucial to our success will be increased public awareness of past policy commitments and promises on AIDS, including the Declaration of Commitment on HIV/AIDS. On these promises we will hold our governments accountable.

terça-feira, novembro 29, 2005

Para activistas, burocracia impediu alcançar a meta 3 x 5



Agência Aids 29.11.05

A burocracia, problemas administrativos e financiamento inadequado estão minando o esforço global para administrar drogas anti-Aids a três milhões de pessoas no mundo inteiro até o fim de 2005, disseram ativistas na segunda-feira.

Pelo menos três milhões de pessoas precisam desesperadamente de drogas anti-retrovirais, afirmou a Coalizão Internacional de Prontidão de Tratamento num relatório sobre o fracasso do programa "3 até 5", da ONU.

"Na África do Sul e em incontáveis outros países, trabalhamos por mais de uma década para garantir o acesso ao tratamento contra o HIV", disse Zackie Achmat, fundador da Campanha Ação de Tratamento da África do Sul.

"Nesse período, milhões de pessoas morreram por não ter acesso aos medicamentos, e milhões mais vão morrer se não conquistarmos o acesso universal até 2010."

O chefe do programa de HIV/Aids da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jim Yong Kim, pediu desculpas pelo fracasso do programa, mas disse acreditar que ele tenha servido para ressaltar a necessidade de ampliar o alcance dos tratamentos contra a doença.

"Só posso pedir desculpas", afirmou ele numa entrevista à BBC. "Acho que temos que admitir que não fizemos o bastante, e que começamos tarde demais."

A Unaids, agência da ONU para a Aids, disse na semana passada que há 40 milhões de soropositivos no mundo, e que o número de infecções está crescendo num dos ritmos mais rápidos já registrados desde o primeiro caso, em 1981.

O relatório dos ativistas examinou os problemas no tratamento para Aids e HIV em seis países onde a doença está avançando: África do Sul, República Dominicana, Índia, Quênia, Nigéria e Rússia.

Segundo eles, gargalos de burocracia e falhas na liderança política foram fatores fundamentais para prejudicar o fornecimento das drogas. Um dos exemplos citados foi a luta por verbas entre agências diferentes na República Dominicana. Na Rússia, a ausência de um protocolo de tratamento nacional prejudicou a reação à doença, afirmou o documento.

A falta de trabalhadores especializados, a falta de financiamento e o estigma que ainda cerca os soropositivos também foram responsabilizados pela demora na obtenção do tratamento. As grandes distâncias que os pacientes têm de percorrer para conseguir o tratamento, em países como a Índia, também foram mencionadas.

O governo da África do Sul, que possui o maior número absoluto de soropositivos do mundo, "continua a passos de tartaruga e não consegue combater a desinformação e a pseudo-ciência", disse o relatório.

Segundo o levantamento, será impossível chegar à meta do acesso universal aos medicamentos até 2010 se não houver uma nova estratégia.

"A iniciativa ''3 até 5'' não conseguiu tratar nem 50 por cento das pessoas que precisam de tratamento com anti-retrovirais. Se as organizações responsáveis pela execução desse programa quiserem atingir um objetivo ainda maior daqui a cinco anos, isso exigirá uma nova e corajosa liderança", afirmou o texto.

Primeiro-ministro angolano considera prioritário combate ao VIH/SIDA

Lusa 29.11.05

O primeiro-ministro angolano, Fernando Dias dos Santos "Nandó", definiu hoje como prioridade na agenda do governo de Angola o combate ao VIH/SIDA e às doenças sexualmente transmissíveis. O primeiro-ministro angolano discursava na abertura do primeiro congresso sobre as Infecções de Transmissão Sexual e VIH/SIDA na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorre na capital angolana, numa iniciativa da Fundação Eduardo dos Santos (FESA).

Segundo Fernando Dias dos Santos, "a falta de infra-estruturas, a fraca disseminação e informação sobre o VIH/SIDA e as infecções sexualmente transmissíveis, a insuficiência de recursos humanos qualificados, a escassez de testes para o rastreio do VIH e de recursos financeiros são algumas das dificuldades que constituem barreiras à extensão da política nacional nesse domínio".
...
Nesse sentido, defendeu a aplicação das políticas e das estratégias para a prevenção, controlo, tratamento e a investigação do VIH/SIDA e das infecções transmissíveis sexualmente estabelecidas no acordo de cooperação da CPLP.

O congresso que termina sexta-feira e decorre sob o lema "Unidos por uma vida saudável", debate em vários painéis questões como a situação epidemiológica actual das Infecções de Transmissão Sexual (ITS) e VIH/SIDA nos países da CPLP e as estratégias de prevenção e controlo, além do tema adolescentes e jovens versus ITS e SIDA.

Dados oficiais indicam que Angola tem a mais baixa taxa de incidência do VIH/SIDA entre os países membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), mas em meados de 2004, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), anunciou que o número de novos casos de SIDA em Angola poderá crescer de 21 mil em 2001 para 45 a 49 mil em 2005.

Segundo esta agência da ONU, a prevalência do vírus em Angola poderá aumentar de 5,7 por cento em 2001 para 9,96 por cento em 2005, admitindo que poderá atingir 18,8 por cento em 2010. Caso estas projecções venham a confirmar-se, o número de seropositivos em Angola poderá passar de 344 mil em 2001 para 749 mil em 2005, atingindo 1,6 milhões em 2010.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Lei californiana proíbe recusa de cirurgia para transplante baseada no status do VIH

AidsPortugal 28.11.05

O Gov. da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, assinou uma proposta de lei a proibir que as companhias de seguros de saúde recusem a cobertura em caso de transplante de órgãos em doentes de HIV, apenas com base no seu status serológico. A lei, apoiada pelo membro da Assembleia Paul Koretz (D-West Hollywood), é a primeira deste género em todo país a ir contra estas recusas, que são frequentes na maioria das seguradoras de saúde.

As razões que normalmente são dadas para a recusa de cobertura incluem a presunção de que os doentes HIV-positivos não viverão tempo suficiente que justifique o custo do transplante, ou de que estes doentes poderão não conseguir suportar os fármacos utilizados para suprimir uma resposta imunitária ao órgão transplantado. No entanto, estudos têm demonstrado que os adultos HIV-positivos sob regime com fármacos anti-retrovirais e cujo vírus é controlado, têm resultados após o transplante, similares aos observados entre doentes HIV-negativos.

A nova lei da Califórnia vem no seguimento de vários processos bem sucedidos contra recusas de cobertura de cirurgias para transplante de órgãos pelas seguradoras de saúde a doentes de HIV na Califórnia, Colorado, Iowa, Maryland, New Jersey e Pennsylvania.
Advocate.com (11.10.05)

domingo, novembro 27, 2005

Saber o mais cedo possível para "evitar alastrar a doença"

Já tivemos relatos de aconselhamentos psicológicos extremamente moralistas nos CADs. Alguém controla a qualidade destas consultas?

Público 27.11.05

Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida."Dessa vez fui estúpida", conta uma jovem. Na sala de espera, senta-se quem pensa que a doença "não acontece só aos outros".

Ana (nome fictício) empurra o puxador, sai porta fora segurando a folha branca do exame na mão esquerda e falando ao telemóvel com a direita. Encosta-se à parede com um movimento corporal de descontracção e um sorriso de alívio que é pontuado com um polegar que faz o gesto de okay: os testes ao vírus HIV/sida deram negativo.

Antes de entrar no gabinete da psicóloga clínica que lhe revelou os resultados, parecia que Ana, uma estudante de 24 anos, tentava acalmar-se: "A probabilidade de eu ter é mínima", "não estou muito preocupada", repetia. O alívio que agora manifesta parece contrastar com a sua aparente serenidade. Aconselhada pelo ex-namorado - a primeira pessoa a quem contou a boa nova pelo telemóvel -, diz que é a única do seu grupo de amigos que teve "a coragem". Conhece quem "prefira viver na ignorância". Para ela, saber o mais cedo possível significa ter acesso aos tratamentos que já existem e "evitar alastrar a doença para outras pessoas".

Novos relacionamentos e relações sexuais sem preservativo são as principais razões que levam as pessoas a fazer o teste da sida, explica a coordenadora do Centro de Aconselhamento e Detecção HIV/sida (CAD) da Lapa (em Lisboa), Irene Santo. Foi o caso de Paula (nome fictício), uma estudante de Química de 23 anos que não usou protecção numa situação: "Dessa vez, fui estúpida". Não convenceu o namorado a vir. "Já me chateei com ele por causa disso. Disse-lhe que não acontece só aos outros." Não teve resposta, conta, desalentada.

Há ainda o problema dos que se julgam protegidos só porque foram sendo fiéis, em sucessivas relações. Mas, na "roleta russa das infecções", refere Irene Santo, "a monogamia em série" não é garantia de protecção contra a doença: pode ter-se um parceiro seropositivo e nunca ficar infectado e, com uma única relação, ser infectado - tudo depende de variáveis como a imunidade e o estado geral da pessoa [??], refere Irene Santo.

Um boião cheio de preservativos
Mais vale não arriscar. Um grupo de adolescentes de mochila às costas tira de dentro de um boião mãos cheias de preservativos. Os quatro estudantes de teatro, com idades entre os 16 e 20 anos, aproveitaram uma manhã sem aulas para perguntar quando podem fazer os testes. As duas raparigas querem vir mais tarde, acompanhadas pelos namorados.

Por semana, são cerca de 50 as pessoas que fazem testes ao HIV/sida no primeiro CAD que nasceu em Portugal, em 1998. Mas o total de atendimentos, que incluem apoio psicológico, sobe para o dobro, explica Irene Santo. Predominam as idades entre os 21 e 40 anos (77 por cento) e por cada mulher aparecem dois homens, acrescenta a médica.

Antes da realização de qualquer teste, é obrigatório aconselhamento com a psicóloga. Saem desta sessão a dominar termos como "período janela" [a infecção pode levar de seis a oito semanas a manifestar-se através de análises], e a saber que o sexo oral também representa risco de infecção, um dado que muitos ignoram, explica Irene Santo, coordenadora do CAD da Lapa. Depois, há que gerir os três dias de espera necessários para saber os resultados. Há quem "se distraia com amigos" ou "fique pensativo em casa", explica Ana Barros, a psicóloga clínica que faz o aconselhamento prévio ao teste. Passado este período, chega a altura de recolher os testes.

Ana Barros já teve pessoas que lhe entraram no gabinete com o pé direito, para dar sorte; e outras que saíram de olhos no chão ou aos pulos de alegria. As reacções aos resultados variam e a equipa de técnicos do CAD só tenta que ninguém saia do gabinete a chorar para não perturbar quem aguarda na sala de espera.

Aos que recebem a notícia de que são seropositivos é oferecida ajuda e encaminhamento. Dos primeiros conselhos faz parte o "ter cuidado às pessoas a quem se conta". Mais do que o tratamento, é "a discriminação" que mais preocupa as pessoas, explica Ana Barros.

"Luta contra a sida deve ser menos medicalizada"

Mais uma vez a comunidade não foi tida nem achida na preparação duma campanha nacional...
Esperemos também que a CNSIDA tenha preparado a capacidade de resposta. Ou já não há listas de espera nos centros hospitalares para a primeira consulta depois dum diagnóstico positivo?


Público 27.11.05

Portugal não tem um retrato da situação em matéria de infecção pelo VIH/sida, mas sim "pequenas fotografias", diz Henrique Barros, coordenador nacional da luta contra a sida. O epidemiologista entende que o sucesso do combate à doença depende de uma actividade "integrada e continuada" e defende a generalização dos testes rápidos de detecção, que já podem ser encomendados na Internet.

Um boneco com o braço direito a ostentar um sinal positivo e o esquerdo a exibir um sinal negativo e um simples apelo: "Só há uma maneira de saber - Faça o teste VIH/sida". Esta é a imagem de marca da primeira campanha a ser lançada quinta-feira - dia mundial da doença - pelo coordenador nacional de luta contra a sida, o epidemiologista Henrique Barros. Uma imagem que permanecerá o tempo necessário para as pessoas interiorizarem a importância de saber se estão ou não infectadas. "Uma política baseada em acções pontuais e desgarradas não serve para nada", explica o médico.

PÚBLICO - Este ano, as comemorações oficiais do Dia Mundial da Luta Contra a Sida vão centrar-se na promoção da realização do teste VIH/sida. Por que razão?
Henrique Barros - O último relatório da ONU Sida chama a atenção, num conjunto de 12 pontos, para a importância do conhecimento do estado serológico. Por isso, vamos valorizar a questão do acesso dos grupos menos favorecidos aos cuidados de saúde. Em Lisboa, vamos usar um centro de aconselhamento e detenção (CAD) [locais onde o diagnóstico é feito de forma anónima] móvel num bairro desfavorecido.

Em Portugal, não se conhece ainda o padrão epidemiológico da infecção VIH/sida?
Conhece-se mal. Ou, dito de outra forma, podia conhecer-se muito melhor. Para isso era necessário, primeiro, que os médicos declarassem a doença a tempo e cuidadosamente; segundo, que houvesse uma política sustentada e persistente de utilização dos testes VIH/sida; e, terceiro, que existisse uma boa rede de gente na área da saúde pública com formação em Epidemiologia para trabalhar a informação em tempo útil.

Não temos um retrato da situação, portanto?
Não, temos pequenas fotografias. [a única coisa que o Meliço-Silvestre fez durante 2 anos...]

Mas a doença passou a ser de declaração obrigatória no início deste ano. As notificações não aumentaram?
Houve algum aumento no número de casos declarados, mas ainda não passou tempo suficiente para perceber se isso é significativo. Pessoalmente, penso que este é um falso problema. Precisamos de saber a extensão da subnotificação. E há maneiras de a calcular, uma parte através de modelação estatística, outra através de informação. Imagine que estão mil doentes em tratamento e só temos 800 pessoas declaradas ou que um laboratório diagnostica numa área mil casos e depois só aparecem 400. Jogando com estas informações, podemos calcular. Isto é um trabalho técnico que nunca foi feito.

As metas do Plano Nacional de Luta Contra a Sida para o triénio 2004-2006 estão longe de ser atingidas. Tenciona refazer este plano?
Ainda não chegamos ao fim de 2006... Primeiro, temos que avaliar tudo o que foi feito. Mas penso que é necessário desmedicalizar o plano. Deve-se pensar num modelo menos medicalizado [da luta contra a sida]. Pode haver outros profissionais, nomeadamente nos centros de saúde.

Como explica o relativo insucesso das várias estratégias de combate ao VIH/sida ao longo dos últimos anos? [relativo?]
O trabalho que se fez não foi suficiente. Isto não quer dizer que não foi feito um bom trabalho, mas que é preciso fazer mais e melhor. O sucesso depende da actividade integrada e continuada. Uma política baseada em acções pontuais e desgarradas não serve para nada e, provavelmente, até é prejudicial.

Mas as campanhas de prevenção vão continuar?
As campanhas com carácter mais mediático são uma parte deste puzzle. Aliás, vamos apresentar uma campanha a apelar para a realização dos testes na quinta-feira [Dia Mundial da Luta Contra a Sida].

Os CAD que existem em todos os distritos (18 fixos e dois em unidades móveis) são pouco procurados (apenas 8 mil pessoas em 2004). Como pensa alterar esta situação?
Os testes VIH/sida não se fazem só nos CAD. O modelo ideal é fazerem-se como parte de uma avaliação laboratorial integrada da pessoa [pelo seu médico assistente ou médico de família]. Mas é preciso ter modelos alternativos para ir de encontro às pessoas que não têm esse acesso e esta alternativa tem que ser cada vez mais móvel.

Esses centros custaram, no ano passado, 577 mil euros para detectarem 153 pessoas infectadas...Vai cortar nesta área?
O problema não se coloca tanto na necessidade de cortar, mas sim na de serem mais eficazes. Um centro destes tem de estar disponível nas horas em que as pessoas não estão a trabalhar.

Por que razão é que só Lisboa e Faro é que têm unidades móveis?
Há também algumas unidades móveis da iniciativa de organizações não governamentais e estamos a discutir a possibilidade de ter um no Porto. Mais tarde, poderemos avançar para uma unidade móvel a nível nacional.

Já advogou publicamente a necessidade de generalização dos testes rápidos...
A tendência natural é que se generalize o acesso aos testes rápidos, até nos hospitais. Sobretudo para não perdermos a oportunidade do contacto. Além disso, hoje já se pode encomendar um teste destes na Internet. E os avanços tecnológicos vão permitir que a pessoa possa ela própria fazer o teste. Temos que antecipar esta realidade e ajudar a população a estar preparada para lidar com o resultado. E não ficarmos à espera que cheguem às farmácias e depois dizermos "ai Jesus".

Preservativos devem ser "muito mais baratos"

Os adolescentes portugueses continuam a usar pouco os preservativos, de acordo com sucessivos inquéritos efectuados.
Uma proporção importante dos adolescentes continua a não usar de uma forma consistente o preservativo. Isto é muito mau. É indiscutível que há aqui um défice de comunicação. Mas também temos que lutar para que os preservativos sejam muito mais baratos. Este é um aspecto fundamental. Por exemplo, em Espanha o preço é muito inferior.

Mas houve países que partiram de situações muito complicadas a este nível e conseguiram bons resultados.
Sim, o Brasil, por exemplo, é um caso evidente de sucesso, graças a uma política muito agressiva de prevenção - no sentido de não confundir falsa moral com ética, o que acontece muitas vezes em Portugal. A questão do preservativo é fundamental. A própria Igreja brasileira, ou as igrejas brasileiras, perceberam que o que estava em causa era a vida. E que, neste conflito de valores, era mais importante assegurar a vida.

Está a pensar pedir a ajuda da Igreja portuguesa?
É muito importante falar com a Igreja e, em muitos sítios, a Igreja tem sido um aliado fundamental. Claro que tenciono pedir a ajuda das igrejas portuguesas.

Além disso, no Brasil, um dos ministros da Saúde deu a cara publicamente e foi fazer o teste...
É evidente que há gestos simbólicos que ajudam. Mas, isolados, também não servem para nada. Há uma coisa de que não se fala e que é muito importante, como mostrar a cara das pessoas doentes [como??] e que, pelas suas escolhas e comportamentos, a população tende a considerar que não estão em risco. Ao contrário de crenças analfabetas, não é por se ser toxicodependente, homossexual ou trabalhador do sexo que uma pessoa se infecta. As pessoas infectam-se porque não tomaram as medidas preventivas necessárias. E é por isso que estamos a assistir a uma preocupante escalada nos casos em heterossexuais.

A substituição da anterior comissão de luta contra a sida por esta estrutura de coordenação vai conseguir alterar a situação?
A sida não é só um problema de saúde, mas de sociedade, portanto faz sentido que haja uma estrutura capaz de coordenar diferentes sectores: trabalho, prisões, segurança social, educação. A ideia é provocar estes sectores para fazerem mais e evitar que andem a fazer a mesma coisa.

Legalização pode facilitar controlo da Saúde Pública



Em vez de cada um dar o seu palpite, deviam ver se existem estudos sobre a correlação entre a prostituição legalizada e a diminuição das DSTs.

CM 26.11.05

A legalização da prostituição “não é uma receita mágica”, mas pode ser um importante caminho para minorar “os efeitos perversos” desta actividade, em particular no que diz respeito à saúde pública, afirma o sociólogo Manuel Carlos Silva, co-autor de um estudo sobre o comércio do sexo na região do Minho e Trás-os-Montes.

“Se continuamos nesta espécie de limbo jurídico, mantém-se a fuga aos impostos, a incapacidade das prostitutas lutarem pelos seus direitos, o tráfico de mulheres e a inexistência de um controlo sanitário regular”, esclarece o professor. E sem controlo sanitário, nada garante que casos como o de Viseu – em que uma prostituta com sida, que também esteve no Algarve, pode ter infectado centenas de clientes –, não continuem a acontecer. Manuel Carlos Silva defende, por isso, que é urgente mexer com “mentalidades retrógradas e hipócritas” e regulamentar a prostituição de uma vez por todas.

ALTERAÇÃO EM ESTUDO
Sempre que surgem dados novos sobre a propagação do VIH ou a imigração ilegal de mulheres, volta a debater-se a questão da legalização da prostituição. Mas a troca de ideias tem sido feita em surdina e, até agora, sem resultados práticos.
(...)

APOSTA NA EDUCAÇÃO
A directora da associação O Ninho, Inês Fontinha, tem sido um dos rostos na luta pela não legalização da prostituição em Portugal. “É preciso desmontar a ideia falaciosa de que a legalização dos bordéis levaria à diminuição das doenças sexualmente transmissíveis.”

Na opinião da socióloga, a prevenção passa por “uma boa educação cívica e para a saúde” dos cidadãos. Inês Fontinha considera a prostituição uma forma de escravatura, lamentando, nesse contexto, que a responsabilidade sobre a transmissão de doenças infecto-contagiosas seja quase sempre atribuída à mulher. “Se o homem é o comprador e pode impor as regras, porque é que culpam sempre as mulheres?”

HOLANDA PIONEIRA EXEMPLO
Na Holanda, o país pioneiro na legalização dos bordéis, a medida contribuiu para “melhorar a segurança, higiene e condições laborais” das pessoas que se dedicam à prostituição.

PREVENÇÃO
As empresas do ramo são obrigadas a promover o sexo seguro e a estimular as prostitutas/os a realizar exames periódicos para despistagem de doenças. Os controlos médicos são voluntários e devem ser feitos quatro vezes por ano.

Barros em entrevista ao CM



CM 25.11.05

Henrique Barros é o novo Coordenador Nacional para a Infecção VIH/Sida. Na primeira entrevista que dá ao CM contesta a legalização da prostituição como forma de assegurar a Saúde Pública e aposta na sensibilização dos portugueses para a importância dos testes. Fala ainda da tendência para o decréscimo de novos casos.

Correio da Manhã – O recente caso da prostituta brasileira que morreu com sida em Viseu levanta a questão: a prostituição deve ser legalizada pela defesa da Saúde Pública?

Henrique Barros – A legalização da actividade sexual, como uma profissão, tem de ser independente dos contextos de prevenção da infecção VIH. É um falso problema estar a discutir a questão do regulamentarismo, do abolicionismo, da profissionalização por causa das infecções da sida ou de outras infecções de transmissão sexual.

– A legalização não permitiria às prostitutas maior acesso aos cuidados de saúde e um reforço na prevenção?
– Há países com diferentes regimes que têm sido capazes de criar condições para minimizar os riscos de infecção nessas circunstâncias.

– Como?
– A ideia de que legalizando há controlo, como existe noutras profissões, não é necessariamente verdade. Isso é um falso problema. Podemos discutir se a melhor maneira de encarar a comercialização do sexo é através da legalização ou da regulamentação, mas isso é um problema social, de relações entre as pessoas, que tem de ser visto independentemente das questões da infecção.

– Mas a prostituição é uma actividade de elevado risco de contágio. Por que não legalizar?
– Porque vamos criar uma situação completamente obsessiva de obrigar as pessoas a exames médicos que não são obrigatórios para as outras pessoas. Porque a pesquisa da infecção não é obrigatória, é aconselhada, é promovida. Devemos fazer com que as pessoas façam os testes mas não de uma forma coerciva. Por outro lado, pode criar sensações de falsa segurança que sejam muito prejudiciais no fim.

– Como evitar que as pessoas continuem com comportamentos de risco e não usem o preservativo?
– A regra fundamental é educar. Por ser legal ia modificar essa atitude dos homens? Não. Irá sempre haver uma negociação que nas situações de sexo comercial terá de ser feita e o fundamental é dar poder às mulheres para elas prevenirem essas situações.

– Que tipo de poder?
– Por um lado promovendo o preservativo feminino, por forma a mitigar ou poder ultrapassar algumas dessas circunstâncias. Por outro, criando consciência e apoio social de forma a que as mulheres na prostituição possam negar as situações em que o seu cliente se recusa a usar o preservativo.

– As campanhas de prevenção têm sido ineficazes. Uma das razões apontadas é porque são genéricas, em vez de se dirigirem a públicos-alvo. Vai mudar essa situação?
– Temos de ser capazes de fazer dois tipos diferentes de aproximação. Uma é global – as pessoas que têm actividade sexual correm risco e têm de ter consciência disso e a fidelidade de uma pessoa é só a sua, ela não sabe o que se passa com o outro. Depois tem de haver um esforço para ir ao encontro de grupos especiais: pessoas que usam drogas endovenosas, trabalhadores do sexo, grupos que não estão legalizados no País.

– Como convencer as pessoas a fazer o teste quando não usam o preservativo?
– A capacidade de promover a realização do teste é diferente junto dos universitários, adolescentes e adultos não escolarizados. As pessoas, quando vão ao médico de família ou à Urgência hospitalar, deveriam fazer o teste.

"PODERÁ HAVER MENOS CASOS DE INFECÇÃO EM PORTUGAL"
Henrique Barros revela que nos casos declarados ou notificados este ano parece haver uma diminuição da infecção.“Mas ainda temos de ver e avaliar a extensão da notificação. Se houve menos casos declarados não quer dizer que já serão menos. Pode querer dizer que está a haver menos casos detectados, apesar de que a partir do momento que a declaração passou a ser obrigatória houve um aumento de entrada de declarações. De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Ricardo Jorge, a manter-se o mesmo ritmo, haveria uma boa notícia: aparentemente menos casos de infecção.”
[ainda não aprendemos a lição das aparentes diminuições ano após ano?!]

Contudo, a incidência da infecção ainda é, segundo o coordenador, preocupante. Em 2004 era de 280 casos por milhão de habitantes e os casos de sida (com sintomas visíveis da doença) eram de 80 por milhão de habitantes. São dados dos mais altos da Europa dos 25.

“Agora, o mais importante que temos de ser capazes de fazer é conhecer o risco real nos grupos (prostitutos, heterossexuais, jovens, iletrados) e saber como é que a infecção avançou nesses mesmos grupos.”

PERFIL
Henrique Barros nasceu há 48 anos no Porto. É casado e tem dois filhos. Doutorou-se na Faculdade de Medicina da Universidade daquela cidade, especializando-se em gastrenterologia e, mais tarde, enveredou pela epidemiologia.

Durante a sua vida académica exerceu cargos em várias comissões científicas. Foi assistente hospitalar no Santo António, no Porto, e fez investigação no Hospital Universitário de Lund, na Suécia.

Na sua actividade científica realiza investigação na área da Saúde Pública e clínica, de natureza predominantemente epidemiológica, em especial nos temas de saúde perinatal, infecciologia, doenças cardiovasculares e cancro.

Foi investigador principal e co-investigador em projectos financiados pela Comissão de Fomento da Investigação em Cuidados de Saúde, Projecto Vida, Fundação Gulbenkian, Saúde XXI e Comissão Europeia.

Publicou mais de 100 artigos científicos em revistas indexadas e 16 trabalhos receberam prémios nacionais e internacionais.

Recentemente tomou posse como novo coordenador do programa de luta contra a sida, substituindo no cargo outro epidemiologista: Meliço Silvestre.

CAD do Porto: sida detectada em 3% dos utentes

sida ou vih?

DN 27.11.05

Cerca de três por cento das mais de três mil pessoas que já recorreram ao Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce do VIH/Sida (CAD) do Porto estavam infectadas com a doença. Em comunicado, o CAD-Porto afirma que, em três anos de funcionamento, já efectuou mais de 6500 atendimentos, ultrapassando os três mil utentes.

"O CAD-Porto detectou e encaminhou para tratamento cerca de três por cento destes utentes", acrescenta. O CAD é um serviço que, de forma anónima e gratuita, tem possibilitado o acesso ao diagnóstico da Sida.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Curry Cabral actualiza-se!

5as Jornadas de Actualização em Doenças Infecciosas do Hospital de Curry Cabral
Data: 2 e 3 de Fevereiro de 2006
Local: Lisboa, Culturgest
Organização: Comissão Organizadora do Hospital de Curry Cabral, com Direcção de Dr. Fernando Maltez

Recordem-se a situação denunciada:
Hospital Curry Cabral (segundo hospital em número de doentes VIH)
- Fuzeon (T-20), terapêutica de resgate: ainda não está disponível no hospital 2 anos depois da aprovação pelo INFARMED. O Director de Serviço afirma que não tem doentes com indicação para o T-20!
- Viread (tenofovir): as “orientações” internas do hospital só permitem para terapêutica de resgate, embora todas as orientações terapêuticas indicam para primeira linha (único grande hospital com esta restrição).
- Truvada (TDF+FTC): não disponível por razões administrativas.
- O hospital raramente participa em ensaios clínicos ou em programas de acesso alargado / A.U.E.
- Não há ninguém a fazer Tipranavir no programa de acesso alargado
- Prescrição não de acordo com as orientações actuais: há pessoas ainda em mono/bi-terapia mas o hospital tem laboratório próprio para fazer os testes de resistências. No passado, mais de 30 clínicos, muitos sem experiência, prescreveram ARV, hoje ainda há 17 médicos para 1.000 doentes com medicação, distribuídos por vários serviços.

Vaticano boicota Daniela Mercury



coitadinha...

Agência Aids 23.11.05

VATICANO CANCELA PARTICIPAÇÃO DE DANIELA MERCURY EM REPRESÁLIA A SEU APOIO EM CAMPANHA PARA USO DE PRESERVATIVO. CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR CONSIDERAM ‘ATITUDE AUTORITÁRIA’

23/11/2005 - 16h50
Em sua coluna desta quarta-feira, 23, o jornalista Ancelmo Góis publicou em O Globo que a cantora Daniela Mercury teve sua participação cancelada no concerto de Natal do Vaticano. Segundo a nota, a atitude do Vaticano aconteceu em represália ao fato de Daniela ter sido protagonista da Campanha “Vista-se”, no Carnaval deste ano, que incentivava o uso do preservativo.

A Agência de Notícias da Aids contatou a produção de Daniela Mercury que não se pronunciou. A responsável pela área de comunicação da organização não-governamental Católicas Pelo Direito de Decidir, Dulce Xavier, considerou a atitude do Vaticano como “autoritária e incorreta por cancelar a participação da cantora no show devido tal motivo”.

Para ela, “o Vaticano deveria rever sua posição conservadora que desconsidera as descobertas da ciência”, disse referindo-se à criação do preservativo. Xavier reafirmou a postura da ONG de incentivar o uso do preservativo como forma de prevenção para DST/Aids e gravidez indesejada.

Leia a nota na íntegra:
O Vaticano cancelou ontem a participação da brasileira Daniela Mercury no concerto de Natal, dia 3 de dezembro, que vai celebrar a abertura do Ano Xaveriano, em honra a São Francisco Xavier, com a presença do Papa Bento XVI. O convite tinha sido feito há cinco meses. O motivo é que a cantora — que tem forte ligação com a área social da Igreja Católica na Bahia — estrelou o comercial de prevenção à Aids no último carnaval. Daniela se apresentaria com artistas do mundo inteiro.

Superemocionada, Daniela diz que respeita a religião católica, que é a sua, mas afirma: "Lamento não poder representar meu país como artista". A cantora reafirma seu direito de discordar da Igreja no que diz respeito à camisinha como forma de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. "Para mim, o uso de camisinha é instrumento de proteção à vida!" (Ancelmo Góis)
Fonte: Jornal O Globo

Mais reacções na imprensa brasileira.

3 by 5 falhou



The Lancet 2005; 366:1828

DOI:10.1016/S0140-6736(05)67735-5

Maintaining anti-AIDS commitment post “3 by 5”

As 2005 draws to a close, so too does the time within which WHO and UNAIDS pledged to provide antiretroviral treatment to 3 million HIV-infected individuals—the “3 by 5” initiative. The newest update on the AIDS epidemic, released on Nov 21, shows that treatment rollout is continuing steadily. But the report also includes a solemn warning: “… the AIDS epidemic continues to outstrip global efforts to contain it.”

The past two decades have witnessed a massive change in the perception of AIDS control. HIV has evolved from a purely social problem to a clinical one—as evinced by the research published in this issue. This change is clearest when viewed in the context of 3 by 5. Before 2003, most countries with high burdens of HIV believed that treatment was complicated and not cost effective. But WHO's commitment to saving lives through treatment—the basis of 3 by 5—succeeded in overturning this prejudice by providing the first global target for treatment, and demonstrating that clear, detailed actions and goals can have a tremendous effect.

But the data released last week show that focusing on treatment is not enough. AIDS has reached a new peak: there are now more than 40 million individuals living with the disease, double the number 10 years ago. And 2005 is likely to be remembered more for the 3 million deaths and almost 5 million new infections it heralded than for the 300.000 lives saved through treatment. The year-on-year escalation in new HIV infections demands a new and integrated approach in which access to care and treatment is expanded simultaneously with HIV-prevention efforts.

It is inescapable that 3 by 5 will be remembered for its failure. But it should also be lauded for its extraordinary political successes—not least for spurring world leaders to agree to the G8 goal of universal access to treatment by 2010. The test for UNAIDS and WHO now will be whether they can create the necessary commitment to see the past 2 years' grand promises turned into action.

Meio milhão em tratamento de substituição opiácea na Europa

DN 25.11.05

Nem tudo são más notícias na análise que o OEDT faz à evolução do fenómeno da droga. A oferta de tratamento, em particular o de substituição opiácea, tem vindo a aumentar e cobre já entre um quarto e metade do total de consumidores de droga.

O número de utentes a receber metadona ou buprenorfina ultrapassou, pela primeira vez, a barreira do meio milhão (530 mil). "Um êxito", segundo o OEDT, que, no espaço de uma década, multiplicou por sete o número de pessoas em terapia. Mas se os antigos 15 Estados membros disponibilizam tratamento, estas terapias representam pouco mais de 1% nos dez novos países da União Europeia e nos três candidatos à adesão (Bulgária, Turquia e Roménia).

"Apesar do sucesso, são necessários mais investimentos. Não podemos esquecer que o nosso objectivo geral é garantir a disponibilidade de opções de tratamento para todos os que dele necessitam, independentemente do local onde vivem e da droga que consomem", afirmou Wolfgang Götz.

Isto porque as disparidades de tratamento não são apenas geográficas, mas também entre as diferentes drogas. "Apesar da expansão do tratamento para o consumo problemático de heroína, este fica muito aquém no caso das outras drogas, como a cocaína e a cannabis." Para estas, continua a não existir, por exemplo, substâncias de substituição e as opções de tratamento estão pouco desenvolvidas, apesar de serem cada vez mais os seus utilizadores a pedir ajuda.

Governo altera lei para dadores vivos

DN 25.11.05

O Governo vai alterar a lei de transplantação para alargar o leque de dadores em vida que, até agora, só admitia familiares até ao terceiro grau de consanguinidade, o que exclui, por exemplo, os cônjuges.

O anúncio foi feito ontem pelo ministro da Saúde, António Correia de Campos, afirmando que, para a lei avançar, falta apenas o parecer da Organização Portuguesa de Transplantação (OPT), o que deve acontecer até ao final do ano. A declaração foi feita durante a sessão comemorativa do 555.º transplante hepático do Hospital Curry Cabral.

"A lei tem de ser mais liberal para a doação em vida. Só falta chegar a consenso com a OPT", disse o ministro. O presidente da OPT, Manuel Abecassis, divulgou que "existem cinco propostas de lei que estão a ser analisadas por um grupo de trabalho cujas conclusões serão enviadas ao Governo até ao final do ano".

A nova lei "vai permitir que cônjuges e amigos próximos possam doar órgãos aos doentes e visa ainda criar condições para reduzir o risco de tráfico". Esta mudança deixa satisfeita a Sociedade Portuguesa de Transplantação que há muito reclamava estas medidas.

Mais sobre transplantes para pessoas seropositivas aqui.

Precisamos de uma sociedade “incivil”

EATN Outono 2005



Precisamos de uma sociedade “incivil”

Na história da epidemia da SIDA, a maior parte dos ganhos foram conseguidos quando a sociedade civil se tornou um pouco “incivil”, ou seja, quando exigiu ser respeitada nos seus direitos e não ser discriminada, quando exigiu o acesso a agulhas esterilizadas ou o acesso aos tratamentos, entre outras coisas. Não se trata de um fenómeno que tenha ocorrido apenas no mundo desenvolvido: vemos muitas pessoas com VIH/SIDA corajosas, de todos os cantos do mundo que, em conjunto com os seus defensores, reclamam aquilo a que têm direito. Mas não por pertencerem à “sociedade civil”, antes porque pertencem à família humana, da qual todos fazemos parte.

Penso que a “sociedade civil”, isto é, as organizações que nos têm representado no quadro das Nações Unidas (NU), se têm vindo a tornar demasiado civis, demasiado dóceis – falam a linguagem das NU, trabalham dentro dos seus protocolos, são demasiado contemporizadoras com uma situação que, a julgar pelo número de mortes que se vai acumulando em redor do mundo, só pode ser apelidada de insana.

Mas alguém fica surpreendido pelo facto de as agências das NU e os seus estados-membros nos tratarem de forma meramente simbólica? Que poder temos junto deles quando permanecemos em silêncio ou quando os “nossos” líderes lembram aos activistas que “têm apenas 2 minutos para falar!” (como aconteceu na UNGASS, em Junho) quando esses activistas viajaram durante dias até chegar a Nova Iorque e quando funcionários de baixa-patente de governos que nada fazem falam durante 10, 20, 30 minutos sem dizerem nada?

O que têm eles a temer por parte deste rebanho de ovelhas em que nos transformámos? Qual será o limiar de miséria humana que nos fará levantar e, todos juntos, confrontarmos as Nações Unidas, as grandes farmacêuticas e os nossos próprios governos com o que eles deixaram que acontecesse nos últimos 25 anos? Sim, algumas pessoas vivem em sítios onde denunciar é perigoso, e contudo elas fazem-no! Muitas pessoas, porém, vivem em países em que falar é fácil, e onde se fala, até, por tudo e por nada. Mas em relação a esta situação, ficamos calados ou, pelo menos, não ultrapassamos os limites do discurso aceite, e sempre de forma polida.

A “sociedade civil” transformou-se na nossa própria auto-justificada e retro-alimentada burocracia. Tornámo-nos profissionais da sociedade civil, fizemos disto uma carreira, a comunidade dos burocratas da SIDA. A mensagem da HDNET, por exemplo, é tão auto-complacente e condescendente que quase me faz chorar. Não analisa os seus próprios pressupostos, nem o nosso papel no meio disto tudo. Só fala de mais reuniões, de mais documentos, e de como todo esse trabalho pode ser facilitado pelos nossos líderes. Temos feito as mesmas coisas uma e outra vez e continuamos à espera de ser bem sucedidos. Quando é que vamos parar e pensar no modo como temos feito as coisas e no que as PCVS (pessoas com VIH/SIDA), os UDs, os HSH (homens que têm sexo com homens), as mulheres e os trabalhadores do sexo realmente precisam e querem, e quando criaremos um movimento que realmente responda a essas necessidades?

OK, mas para quê levantar estas questões? É muito mais confortável sentarmo-nos em gabinetes o dia todo, sem ter que prestar contas a ninguém, seguros num posto de trabalho onde se está há anos, desejando que chegue a reforma, prestando umas consultadorias lucrativas, e indo para a cama à noite de consciência tranquila, sabendo que se travou o combate certo. Pois é, mas a história vai julgar-nos de outra maneira.

Gregg Gonsalves
Gay Men Health Crisis
Nova Iorque, EUA

quinta-feira, novembro 24, 2005

Brasileiros debatem quebra de patentes na área de saúde



Agência Aids 24.11.05

Às vésperas do dia em que se comemora o Dia Internacional da Luta contra a AIDS, o Brasil apresenta uma triste notícia. De acordo com dados do programa DST-AIDS, do Ministério da Saúde, os gastos anuais com a produção e distribuição de medicamentos retrovirais aos cerca de 160 mil portadores do HIV no País aumentaram mais de 50% em relação a 2004, somando US$ 950 milhões. Esse é o tema central do fórum Universalização de Medicamentos: legítima quebra de patentes”, promovido pelo Projeto Brasil que está acontecendo nesta quinta-feira, 24, em São Paulo.

Entre os presentes, Pedro Chequer, diretor do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde; Greyce Lousana, Presidente da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica - SBPPC e Edson Massamori Nakazone, Superintendente da Fundação para o Remédio Popular – FURP.

Em pauta estarão os gastos anuais do Ministério da Saúde com a produção e distribuição de medicamentos retrovirais aos cerca de 160 mil portadores do HIV no País. Outro destaque é a falta de acesso da população brasileira a medicamentos e a quebra de patentes. Atualmente, 50 milhões de brasileiros não têm condições de comprar remédios. Esse índice é responsável por 30% das internações em hospitais públicos, que ocorrem pela interrupção dos tratamentos de saúde por falta de medicamentos.

Segmentos da sociedade defendem a instalação de uma Central de Compras e Distribuição de Medicamentos para Estados e Municípios, gerenciada pelo SUS, além do incentivo à pesquisa e produção de remédios em laboratórios públicos como forma de universalizar o acesso a medicamentos. Outros, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), acreditam que o fracionamento de remédios – a compra da dose exata – poderá trazer benefícios à população e diminuir o custo dos remédios.

O blog do GAT faz 1 ano



Obrigado aos 14.641 leitores!

Genéricos: associação de farmácias apresenta proposta para subida da quota de mercado



Público 24.11.05

O presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) apresentou hoje uma proposta para a contenção da despesa na Saúde, com a qual garante que a quota de medicamentos genéricos subirá dos actuais 12 por cento para 23 por cento.

João Cordeiro falava perante os deputados da Comissão Parlamentar de Saúde, onde se deslocou para ser ouvido a propósito do artigo 8º do relatório do Orçamento de Estado para a Saúde em 2006, que prevê o fim da intermediação financeira da ANF no pagamento das comparticipações estatais dos medicamentos vendidos nas farmácias.

A proposta da ANF, que João Cordeiro disse já ter entregue ao Ministério da Saúde, é composta por três medidas: prescrição por denominação comum internacional (DCI); criação de um formulário nacional com os medicamentos comparticipados até Setembro de 2005; e autorização para importação paralela de medicamentos de países da União Europeia [e toma lá APIFARMA].
...

quarta-feira, novembro 23, 2005

Provedor de Justiça abre instrução depois de queixa do GAT

Carta do Provedor de Justiça recebida hoje acerca da queixa do GAT sobre o acesso à saúde dos imigrantes irregulares:

"...
Informo que a vossa queixa foi recebida na Provedoria de Justiça em 11.11.2005, dando origem ao processo acima referenciado. Vai agora proceder-se à instrução do processo, da qual lhes será oportunamente dada informação.
..."

Unicef e Brasil vão investir US$ 5 milhões no tratamento de portadores do VIH de sete paises



Agência Aids 22.11.05

...
Juntos, os dois órgãos pretendem eliminar a sífilis congênita e reduzir a transmissão vertical do HIV a menos de 1%, além de oferecer tratamento pediátrico e prevenir novas infecções em crianças e adolescentes. Participam da iniciativa, quatro países africanos (Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), Bolívia, Paraguai e Brasil.
...
O documento inclui ainda a ampliação do acesso à medicamentos anti-retrovirais, que deve acontecer pelo envio de medicamentos para Bolívia, Cabo Verde, Guiné Bissau, Paraguai, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, posteriormente, a Nicarágua.

Segundo o acordo, serão investidos cerca de US$ 5 milhões em dez mil tratamentos anti-aids nos sete países. A medida será efetuada por meio do repasse de medicamentos produzidos por laboratórios brasileiros para estes países, incluindo o envio de fórmulas pediátricas para tratamento de crianças portadoras do HIV. O Brasil ainda não conseguiu ultrapassar a marca de três mil tratamentos. “Tivemos dificuldades no diagnóstico, por isso não conseguimos atingir a meta de tratamentos”, explica o coordenador. A Unicef ficou responsável pela distribuição de testes rápidos para diagnóstico do HIV e transporte de medicamentos.

Propagação de sida sob investigação

DN 22.11.05

O Ministério Público abriu um inquérito para averiguar a eventual existência de cúmplices na propagação da sida, admissivelmente promovida por uma prostituta, que morreu com aquela doença em Viseu, há cerca de um mês.

As condições em que uma mulher se dedicava à prostituição - mantendo relações sexuais com os clientes sem qualquer protecção (situação que justificaria que praticasse preços mais elevados e a tornava muito conhecida e procurada no meio) - estarão já sob averiguação, uma vez que a implicação na propagação de doença, caso haja negligência, configura um crime.

Se alguém se serviu da prostituta "como instrumento" e se, igualmente, se provar que "houve dolo" na difusão de doença contagiosa, pode haver lugar a procedimento judicial, incorrendo os implicados em penas de um a oito anos de prisão (se existir perigo de vida ou para a integridade física) ou de multa a três anos de prisão (caso resulte de conduta negligente).

Em princípio, só o doente pode ser julgado pelo Tribunal, considera Germano Marques da Silva, admitindo contudo casos excepcionais. "Este é um dos problemas que se discute em toda a Europa" e para o qual "não se tem encontrado saída", sublinha ainda, ao DN, o especialista em Direito Penal. Para não criar guetos, a sida não é doença que imponha a respectiva notificação e o sigilo médico é obrigatório.

Ministro da Saúde quer contenção nos hospitais



DN 21.11.05

O Ministério da Saúde quer que, em 2006, os hospitais só gastem mais 4% em medicamentos do que este ano e defende a introdução de protocolos terapêuticos nacionais como forma de conter o aumento dos custos. Só em Lisboa, a despesa dos principais hospitais em medicamentos cresceu 8,8% em relação a 2004 e as unidades de saúde indicam que, no próximo ano, esse aumento será de 6,1%.

Em declarações à Agência Lusa, o ministro da Saúde, António Correia de Campos, revelou que os "hospitais sabem que têm um tecto global de 4% para o próximo ano" no que toca ao crescimento da factura com medicamentos. Em Setembro, o ministro havia já anunciado a intenção de reduzir a factura com os medicamentos fornecidos através das farmácias hospitalares, cuja média de crescimento anual indicou ser de 12%, embora existam unidades de saúde em que o aumento da despesa em fármacos atinge os 19%.

Quanto aos protocolos, que definem qual o medicamento mais adequado para tratar uma dada situação, Correia de Campos explicitou que deverá caber aos coordenadores nacionais de programas verticais das doenças com mais peso na despesa - infecção pelo HIV/sida, doenças oncológicas e doenças cardiovasculares -, propô-los, sendo que devem ser "consensualizados pelos pares".

terça-feira, novembro 22, 2005

Tratamento dá falsa segurança

Porquê é que o nosso investigador não mudou a estratégia (sic) da CNLCS, no que diz respeito à prevenção, enquanto estava no quadro da Comissão anterior?!

DN 22.11.05

Paulo Nossa, investigador da Universidade do Minho, é autor de uma tese sobre "Consumo de cuidados de saúde por causa do HIV/sida", que conclui que os gastos de um só hospital - o da Universidade de Coimbra - com 547 pacientes em cinco anos (quase sete milhões de euros) é mais de metade do orçamento alocado em 2004 às três rubricas mais importantes de combate à epidemia pela Comissão Nacional de Luta contra a Sida (entre as quais a promoção da saúde e prevenção da infecção, com cinco milhões de euros). Ou seja gasta-se muito mais em tratamento que em prevenção, releva o investigador - e investir mais na prevenção poderia evitar gastos tão elevados no tratamento.

Paradoxalmente, o investimento e os progressos nas terapias anti-retrovíricas têm contribuído para aquilo que Nossa classifica como "uma sensação de falsa segurança associada ao tratamento, já mencionada no relatório do ano passado do Euro-Hiv. E isso é muito visível entre os homossexuais, que como comunidade estiveram no início da epidemia na primeira linha dos esforços de prevenção, foram muito pró-activos, e que agora, mercê de uma nova geração que não viveu nada do drama de há 20 anos, que não passou pela discriminação e pelas perdas afectivas, estão a acompanhar os heteros nos comportamentos de risco." Um "deslize" cuja responsabilidade Paulo Nossa atribui à "ausência de um esforço de educação". Que, para o investigador, tem de passar, "obviamente", pela escola, onde "o treino de competências para enfrentar os riscos associados à sexualidade deve ser encarado como um direito de cidadania".

O que faz falta é assustar a malta


Peter Piot, director da ONUSIDA

DN 22.11.05

"Observo no discurso dos jovens a procura de sexo sem preservativo, a insistência em que há um prazer maior dessa forma, e uma ausência do medo da sida. Não viram ninguém próximo morrer disso e têm a ideia de que a doença passou a crónica, já não é mortal, que a medicina está a avançar muito e que o problema, daqui a uns anos, nem se vai colocar." As impressões deste activista da ILGA (associação de defesa de homossexuais), que faz distribuição de preservativos em vários locais da capital, nomeadamente nas zonas de diversão nocturna, vão ao encontro da análise do relatório da Onusida, que refere "um ressurgimento do comportamento sexual de risco" em vários países da Europa Ocidental, incluindo entre os homossexuais masculinos.

Portugal é aliás, com a Bélgica, Dinamarca, Suíça e Alemanha, um dos países europeus em que o número de novos diagnósticos atribuídos a sexo entre homens aumentou (bastante na Alemanha, ligeiramente nos outros) entre 2002 e 2004. No resto da Europa Ocidental, onde a tendência dominante é a do aumento das novas infecções atribuídas a sexo "hetero" e a subida do número de mulheres infectadas, os diagnósticos associados a sexo entre homens continuam a diminuir, mas outros sinais de perigo, como o aumento de casos de sífilis e de outra infecções sexualmente transmissíveis entre os homossexuais evidenciam uma provável alteração nessa curva.

doidos e amantes.
É, como comenta o activista da ILGA, "o regresso do sexo completamente desprevenido e ocasional, dos engates com pessoas que não se conhecem de lado nenhum voltou-se ao mesmo tipo de coisas que se faziam antes do 'grande susto', há 20 anos. Estava convencido de que estas coisas tinham acabado". A surpresa do membro da ILGA é compreensível: se os comportamentos sexuais de risco nunca deixaram de se verificar nas relações ditas heterossexuais - nomeadamente porque se criou a ideia de que a infecção por HIV era coisa de "grupos de risco", ou seja, "dos outros" - , entre os homossexuais masculinos, devido ao facto de o início da epidemia lhes ter sido associado, houve uma consciencialização do perigo muito mais aguda e um envolvimento militante na prevenção e no combate à doença.

Mas essa consciência, reconhece o activista, não foi herdada por quem tem agora vinte anos. E fenómenos comparáveis à roleta russa, como o barebacking (a procura de parceiros para sexo especificamente sem preservativo), chegaram já a Portugal. "Há uma desvalorização grande dos malefícios da doença", conclui o membro da ILGA, que, entre outros factores, atribui o facto à inépcia das campanhas, que "não têm sido suficientemente fortes para fazer passar a mensagem sobre o carácter mortal da doença". Ou seja é preciso reavivar o medo.

As netas e as avós.
Se algo pode contribuir para inculcar nas mentes a ideia de que a infecção por HIV não escolhe sexo, práticas sexuais nem idades, são os dados mais recentes relativos às notificações hospitalares. Se nos últimos anos se assistiu a um aumento dos diagnósticos entre idosos e nas mulheres em geral, as mais recentes notificações dão a ver, segundo Teresa Paixão, do Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis, a tendência para uma subida no número de casos nas jovens entre 16 e 18 anos e nas mulheres com mais de 50 anos, umas e outras, frisa a investigadora, "portadoras assintomáticas".

Na sua última visita a Portugal, em Outubro, o director executivo da Onusida, Peter Piot, manifestou preocupação com a situação portuguesa, sobretudo depois de ter tomado conhecimento da prevalência da infecção entre as grávidas da zona de Lisboa - mais de 1%, ou seja, um valor que a Onusida classifica como sendo de "epidemia generalizada". Mas nas ruas de Lisboa onde se compra e vende sexo os avisos de Piot não parecem ter qualquer eco, a crer no membro da "brigada do preservativo" da ILGA "No último ano temos ouvido apelos sistemáticos no sentido de que se faça alguma coisa para que os clientes se convençam a usar preservativo. Prostitutos e prostitutas queixam-se do mesmo: não conseguem convencê-los."

EATG contra aumento dos preços de ARVs

European activists denounce “unbearable HIV drug pricing increases”

Dublin. November 19th, 2005.

European treatment activists condemned the ever-increasing cost of life-saving antiretroviral treatment at the 10th European AIDS Conference today.

“HIV drug prices are getting higher and higher. This threatens to cause European HIV patients serious difficulties accessing their medication in the near future,” said David Haerry, one of the chairs of the European Community Advisory Board, a working group of EATG.

“This has been a trend since the early days of HIV treatment, but it has accelerated in the last couple of years; nowadays it seems unstoppable.”

Haerry was commenting on the announcement by drug company Boehringer Ingelheim that Aptivus, its recently registered protease inhibitor, will cost up to 24euros a day in Europe - though adding in the other drugs needed for this compound to be effective will at least triple that price.

Introducing new drugs into HIV treatment must lead to a cost-effective use of national health budgets. The new drugs should be more effective, work against drug-resistant virus and have fewer side effects that need managing.

However the new drugs are also more expensive, and with the number of people living with HIV in Europe likely to continue rising for the foreseeable future, their cost to national health systems threatens to become unsustainable.

Aptivus is the latest of a series. Sustiva/Stocrin (BMS/Merck), Viread (Gilead), Kaletra (Abbott), Fuzeon (Roche) and Reyataz (BMS) - each of them previously set a new price record in its class when it was licensed. The HIV drug bill is increasing as more Europeans with HIV are living longer.

“Unless there is a fair drug price policy for all disease areas, including HIV, national health systems are going to bear an excessive burden”, explained Haerry. “This case is not hypothetical: EU countries such as Belgium or regions like the Basque Country in Spain are already restricting access to HIV medication for reasons of cost.”

EATG Board member Smiljka Malesevic comes from Serbia. She said: “Even if these drugs are licensed in Central and Eastern Europe, they are completely unaffordable for the vast majority of patients in the part of the world currently experiencing the fastest-growing epidemic. This threatens lives at a time these new drugs should be saving them.”

The scaling up of HIV drug prices is leading local reimbursement authorities to question the entire licensing system and the value and authority of the EMEA, the European Medicine Evaluation Agency. This is contributing further to an already fragmented picture of access to HIV drugs. What is happening is against the spirit of the European Union, says the EATG.

Nikos Dedes, Chairperson of the EATG, concluded: “We call all stakeholders – companies, regulatory agencies, governments and patient groups - to treat this issue with urgency. We must collaborate on a serious policy for a sustainable HIV drug pricing system in Europe. This is a duty we owe to people living with HIV and to our society.”

Comunicado da Pfizer sobre problema com CCR5

Mais sobre os estudos com os CCR5 aqui.

Pfizer 20.11.05
Please be informed that a serious adverse event has occurred in the maraviroc clinical trial.

Pfizer is releasing the following statement to the advocate community:

Over a thousand patients have been enrolled in the maraviroc program to date. Pfizer has very recently become aware of a single case of hepatotoxicity in a patient receiving maraviroc. As the patient was also simultaneously receiving several drugs which have reported hepatic toxicities, the causality is unclear.

Pfizer is still gathering more information regarding this patient and has called an additional review by the independent Data Safety Monitoring Board of the maraviroc program. While this review is awaited we are providing all patients, investigators, ethics committees and regulatory authorities with currently available information.

We will comment further when we receive feedback from the DSMB and regulatory authorities.

Palavras sábias



"How do you preserve and protect life? The only solution we have at the moment is condoms."

Kevin Dowling, South African Catholic Bishop, explaining his decision to promote condom use despite the Catholic Church's stance against the use of prophylactics (Chicago Tribune, November 4, 2005).

segunda-feira, novembro 21, 2005

Moçambique defende "exemplos" de outros países no combate à sida

Lusa 21.11.05

O ministro da Saúde moçambicano, Ivo Garrido, defendeu hoje a necessidade do país seguir os "exemplos de sucesso" de outras nações no combate à SIDA, para reverter "a terrível situação" da doença em Moçambique.

Ivo Garrido falava no lançamento do relatório das Nações Unidas sobre a situação da SIDA, que confirma um aumento de 14 para 16 por cento na taxa de incidência da doença na população do país.

"Os dados deste relatório (da ONUSIDA) e de outros feitos no país revelam que a SIDA é hoje uma grave ameaça ao desenvolvimento e futuro do país", advertiu o ministro moçambicano da Saúde. Ivo Garrido afirmou que "todas as fórmulas até ao momento experimentadas na luta contra a doença permanecem uma questão em aberto", o que coloca a perspectiva de Moçambique poder colher experiências de outros países nesse campo.

Garrido sublinhou a importância do país continuar a intensificar as acções de combate ao HIV/SIDA, por forma, "primeiro, a deter o aumento da incidência da doença, e, depois, reverter essa tendência".

O relatório das Nações Unidas, apresentado em Maputo pelo representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique, Boukar Touré, refere que a taxa de prevalência do HIV/SIDA no país aumentou de 14 por cento, em 2003, para 16 por cento, em 2004.

Este nível havia já sido apurado pela última ronda epidemiológica levada a cabo pelo Conselho Nacional de Combate à SIDA (CNCS), a instituição do governo moçambicano que articula os esforços de luta contra a doença.

O relatório indica que se registaram este ano no mundo 4,9 milhões de novas infecções por HIV/SIDA, 65 por cento das quais na África Sub-Saariana, tendo ocorrido 3,1 milhões de mortes, das quais 77 por cento também nesta região africana.

Maputo foi uma das cidades escolhidas pela ONUSIDA para o lançamento do seu relatório mundial sobre o HIV/SIDA, a par de outras 18, entre as quais a capital indiana, Nova Deli, acolheu a cerimónia principal.

África Sub-Saariana é a região do continente mais atingida pela SIDA

Lusa 21.11.05

A África Sub-Saariana é a região do continente africano mais atingida pela SIDA, com 25,8 milhões de pessoas infectadas, mais de metade dos 40,3 milhões que actualmente vivem com a doença no mundo, revelou hoje a ONU.

Segundo o relatório do Programa da ONU Contra a SIDA (ONUSIDA) sobre a doença no mundo em 2005, a "África Sub-Saariana tem pouco mais do que 10 por cento da população mundial, mas alberga mais de 60 por cento das pessoas infectadas com SIDA no mundo". O documento refere ainda que na "região morreram aproximadamente 2,4 milhões de pessoas em 2005, enquanto 3,2 milhões contraíram a doença".

Numa análise mais pormenorizada a 35 países africanos, o relatório da ONU revela que a prevalência da doença está a diminuir no Quénia, Uganda e Zimbabué, que Angola continua com um nível de contaminação baixo, e que a epidemia ainda está em expansão em Moçambique e na Suazilândia.

A ONUSIDA constatou também que a falta de informação sobre a doença continua a ser escassa e que os homens estão melhor informados sobre as formas de transmissão da doença do que as mulheres.
A falta de informação sobre a doença também é menor nas zonas rurais do que nas zonas urbanas e que os níveis de educação fazem também uma grande diferença.

"As jovens do Ruanda com educação secundária ou superior têm cinco vezes mais probabilidades de conhecer as principais formas de transmissão da doença do que as que carecem de educação", refere a agência da ONU.

Na região da África Austral, o relatório dá especial destaque ao Zimbabué, onde os níveis de prevalência da doença baixaram nos adultos. "Os últimos dados do sistema nacional de vigilância assinalam uma diminuição da prevalência do HIV entre mulheres grávidas, de 26 por cento em 2002 para 21 por cento em 2004", refere o documento, acrescentando que as "taxas de mortalidade também estão a estabilizar em algumas partes do país". [de certeza que o jornalista quis dizer "incidência" em vez de "prevalência" ]

Segundo a ONUSIDA, esta melhoria ficou a dever-se a "mudanças no comportamento sexual e ao uso do preservativo". Ao contrário do Zimbabué, os dados sobre a África do Sul mostram que a contaminação de grávidas alcançou o mais alto nível de sempre com "29,5 por cento de mulheres infectadas".

"Na África do Sul a SIDA está também a cobrar um preço devastador em vidas humanas", salienta o documento, acrescentando que o "número de pessoas morta com 15 anos de idades e maiores aumentou 62 por cento entre 1997 e 2002".

Em Moçambique, os "últimos dados mostram um aumento da epidemia, com níveis de infecção altos em todas as regiões" do país. "A prevalência da doença em adultos subiu de 14 por cento para 16 por cento entre 2002 e 2004, com uma propagação muito alta nas províncias com ligações directas (através dos transportes) ao Malawi, África do Sul e Zimbabué", sublinha o relatório.

"Na província de Gaza, limítrofe com o Zimbabué e com a África do Sul registaram-se elevados níveis de infecção, assim como na província de Sofala, onde existe a principal estrada de exportação para o Zimbabué", adianta o documento.

Em relação a Angola, a ONUSIDA refere que tem a mais baixa taxa de prevalência da doença da África Austral e que a nível nacional apenas 2,8 por cento das mulheres grávidas são seropositivas. No entanto, o facto de "33 por cento das prostitutas em Luanda serem portadoras do vírus indica que a epidemia pode avançar".

A SIDA já matou mais de 25 milhões de pessoas desde que foi assinalada pela primeira vez em 1981, o que a converte numa das epidemias mais destrutivas de sempre, já que continua a alastrar com mais de 40 milhões de infectados no mundo.

Estima-se que 3,1 milhões de pessoas tenham morrido com a doença no ano passado e outras 4,9 milhões tenham sido infectadas com o vírus, de acordo com o relatório.

Cura 'espontânea' de escocês sem explicação



Primeiro tentou receber uma indemnização do hospital. Quando não conseguiu, contactou os jornais para vender a notícia.

DN 20.11.05

O jovem Andrew Stimpson, de 25 anos, anunciou no domingo passado uma cura inesperada e sobressaltou a comunidade científica. Cautela e reserva são agora a palavra de ordem de especialistas e médicos, enquanto não se fizerem novas e rigorosas análises para verificar a veracidade das alegações. Nunca antes tinha sido afirmado um caso de cura natural do HIV.

Em 2002, o vendedor de sanduíches e jovem homossexual foi declarado seropositivo. Um ano mais tarde, novas análises terão dado negativo. Após acompanhamento no hospital de Chelsea e Westminster (em Londres), os especialistas detectaram cargas virais muito baixas. Contudo, até agora, Stimpson não quis submeter-se a testes mais rigorosos.

Como não fazer jornalismo

DN 20.11.05

Nova terapia em ensaio para HIV.
Resistência natural ao vírus está na base do medicamento, testado também em Portugal.
elsa costa e silva

A resistência natural ao HIV está na origem de um novo medicamento que em breve chegará ao mercado. Desde que um jovem escocês afirmou ter-se livrado da infecção sem qualquer terapia que a imunidade inata contra a doença está na ordem do dia. Não se sabe como Andrew Stimpson conseguiu eliminar o vírus, mas há dez anos que os cientistas descobriram uma mutação genética que impede a infecção pelo HIV.

A nova terapêutica, cujo primeiro produto pode chegar ao mercado já no final do próximo ano, reproduz esse mecanismo de resistência natural. Três companhias farmacêuticas têm ensaios clínicos a decorrer, um dos quais em Portugal. [correcção: a Glaxo parou todos os estudos devido a toxicidade, a Schering parou metade dos estudos por falta de eficácia e os estudos da Pfizer estão também com problemas de toxicidade]

À partida, não será devido a esta mutação genética que Andrew Stimpson, que teve um diagnóstico de seropositividade, se curou da infecção. Nenhum outro caso como o do jovem escocês foi já observado, pelo que os especialistas encaram com reserva a notícia da cura. Mas há uma imunidade natural cientificamente demonstrada casos já demonstrados de pessoas que, expostas ao HIV, não são infectadas, devido a uma mutação genética que elimina o receptor existente à superfície da célula, usado pelo vírus para entrar. Assim, há determinadas pessoas - que se estima representarem 1,5% da população mundial - que, expostas ao vírus, não chegam sequer a ser infectadas (como o foi o jovem escocês), já que o HIV não entra nas células.

O medicamento, que se encontra na fase de ensaios clínicos, corresponde a uma nova classe terapêutica para tratar doentes infectados com HIV. A expectativa de médicos e doentes é grande [correcção: ERA grande], até porque este novo fármaco poderá ser, à partida, a solução para 10% dos doentes, que desenvolvem resistências fortes aos medicamentos e deixam de responder às terapias.

O cenário mais optimista aponta para o facto de este novo tratamento, inibidor da entrada do vírus na célula, poder constituir uma verdadeira revolução [correcção: já temos um medicamento no mercado: o inibidor de fusão, Fuzeon], impedindo a infecção de se desenvolver - e esta é a grande esperança dos laboratórios farmacêuticos. Os médicos estão mais cautelosos. [quem não está é a jornalista, dando esperanças falsas]

Rui Sarmento e Castro, especialista do Hospital Joaquim Urbano, explica que se trata de "uma arma muito promissora" e que "precisamos muito de novas classes de fármacos". Isto porque "os doentes que estão em tratamento há muitos anos são resistentes a tudo". Assim, o novo fármaco é uma "revolução, no sentido em que o seu mecanismo de acção é diferente, o que significa que passam a existir mais opções de tratamento".

Também a médica Maria José Campos salienta a importância de este ser um medicamento de classe diferente. Mas lembra que é preciso esperar, porque nem sempre o que funciona em laboratório tem o mesmo efeito nas pessoas. Por outro lado, esta terapêutica terá de ser administrada em conjunto com outros retrovirais, "porque o vírus tem um mecanismo muito elaborado de fuga ao sistema imunitário e à acção dos medicamentos". E, devido às mutações, o HIV poderá encontrar novas formas de entrar nas células. Para já, o novo tratamento é essencial "porque precisamos de medicamentos de outras classes para combater as resistências".
[comentário da citada: "A conversa com o DN tinha pelo menos 1 mês. Deve ter havido alguma notícia de Dublin, do congresso europeu, que fez despoletar um artigo que já estava escrito e muito mal amanhado. Felizmente que já nessa altura eu tinha referido que era preciso cautela."]

Um dos ensaios clínicos decorre, aliás, em Portugal, envolvendo 25 pessoas e quatro instituições hospitalares. [correcção: os estudos da Glaxo foram parados. Quem estiver no estudo dos experimentados pode continuar o tratamento até ao final do ano quando o estudo será completamente fechado] A companhia farmacêutica responsável por este programa é a GlaxoSmithKline, que inclui doentes já em tratamento nos hospitais Pulido Valente, Joaquim Urbano, Curry Cabral e Barlavento Algarvio. Uma segunda empresa, a Schering-Plough, está também na corrida.

Contudo, a primeira companhia a colocar o fármaco no mercado poderá ser a Pfizer, que, neste momento, tem cerca de quatro mil doentes em todo o mundo registados no seu protocolo de fase III. O programa final deste ensaio clínico envolve, após larga discussão a nível mundial, três estudos com doentes ditos naïfs, ou seja, que não se submeteram a qualquer outro tratamento prévio. O objectivo é demonstrar a validade da terapia em fases iniciais da infecção, sobretudo porque é aí que o gene envolvido na imunidade, quando não mutado, tem maior interferência.

Os testes já realizados conseguiram demonstrar que o novo tratamento consegue reduzir significativamente a carga viral nas pessoas infectadas e que esse efeito se mantém até dez dias após a última dose. O desenho da fase III incluiu vastos programas mundiais de ensaios e foram administradas duas doses diferentes. A aposta da companhia neste novo produto é grande e, por isso, não se quer correr riscos para além de envolver grandes centros referenciados no tratamento do HIV, os ensaios clínicos têm sistemas de controlo apertados de segurança, no que diz respeito à eficácia e tolerância. [coincidência infeliz: a Pfizer comunicou ontem que, neste estudo, houve um caso grave de hepato-toxicidade que obrigou a um transplante de figado]

De acordo com as práticas clínicas em vigor, que têm sido a regra desde que os medicamentos contra o HIV começaram a aparecer, a nova terapêutica será administrada em combinação com os actuais produtos que já estão no mercado.

Resistência do vírus aumenta

DN 20.11.05

Um estudo realizado no Reino Unido, e publicado pelo British Medical Journal, trouxe para a discussão mundial do tratamento do HIV um dado preocupante: 15% dos novos infectados pelo vírus apresentam resistências a pelo menos um dos medicamentos, antes mesmo de ter iniciado o tratamento.

Uma situação que se poderá explicar pelo facto de estas serem pessoas que foram contaminadas, através de sexo não seguro, por doentes já em tratamento. O vírus transmitido será assim uma espécie já resistente. Os testes foram realizados entre 1996 e 2003 e mostram que os níveis de resistência medicamentosa parecem estar a aumentar, com alguns fármacos a ser úteis em apenas 19% dos doentes.

Naturalmente imunes?



CM 21.11.05

Um em cada dez europeus pode ter uma mutação genética que o torna resistente ao VIH. A descoberta de novos remédios assenta na cópia dos mecanismos naturais.

Séculos de pestes e epidemias podem ter conferido a dez por cento dos europeus a mutação genética necessária à garantia de imunidade contra o vírus da imunodeficiência humana (VIH). Tal percentagem, avançada recentemente por dois investigadores ingleses, merece referência numa altura em que redobra a atenção aos mecanismos de resistência natural ao vírus da sida. O objectivo é copiá-los para produzir um novo medicamento, eficaz também no tratamento dos doentes, um décimo, que resistem às terapêuticas actualmente disponíveis.

Sabe-se que indivíduos com a mutação genética designada CCR5 – delta 32, expostos ao VIH, não se infectam porque a mutação evita a entrada do vírus nas células do sistema imunitário.

Christopher Duncan e Susan Scott – investigadores da Universidade de Oxford e da Universidade de Liverpool, respectivamente – acreditam que a mutação no CCR5, associada à resistência ao VIH, deu-se em resultado das vagas de peste que assolaram a Europa.

O estudo ‘Reavaliação das Tendências Histórias Selectivas para a Mutação do CCR5 – delta 32’ sugere que o mal veio por bem. E o mal, neste caso, foi não a peste bubónica, mas as epidemias de febres virais hemorrágicas, consideram Duncan e Scott.

TRANSMISSÃO DA MUTAÇÃO
Como as pessoas com a mutação do CCR5 sobreviveram às epidemias, puderam transmiti-la, justificando a prevalência cada vez maior de imunidade nas gerações seguintes. Os investigadores admitem que nos países mais recentemente afectados por epidemias há mais pessoas portadoras da benfazeja mutação. Na Escandinávia, por exemplo, sujeita à peste de Copenhaga de 1771, a taxa de resistência ao VIH pode ascender a 14 ou 15 por cento da população. Outro exemplo, muito citado, de eventual imunidade natural é o de um grupo de prostitutas do Quénia, expostas ao vírus na relação com os clientes e ainda assim saudáveis.

ESPERANÇA E CAUTELA
Em 1997, as mulheres prostitutas dos bairros de lata de Nairobi foram consideradas um factor fundamental na descoberta de uma vacina, que, no entanto, quase dez anos depois, ainda não foi produzida. Naquela altura, médicos e investigadores não esconderam a surpresa e a esperança que lhes causou a resistência de mulheres ao VIH, que vendiam sexo sem protecção numa zona onde a sida era uma entre as doenças mais mortíferas. Era a Deus que as mulheres atribuíam a ‘miraculosa’ imunidade. “Os estudos com base em mecanismos naturais de resistência são feitos há dezenas de anos. O caso das prostitutas do Quénia é um exemplo, ao que sei sem grandes desenvolvimentos e efeitos práticos”, comenta Maria José Campos, médica, recomendando cautela e moderação da esperança.

HOMEM DO MILAGRE ENTREGA-SE À CIÊNCIA
Andrew Stimpson é, até prova em contrário, o rosto de um milagre médico: deixou de ser seropositivo e nem sequer se submeteu a qualquer tratamento. O jovem inglês, que ganha a vida a fazer sanduíches, acaba de ‘entregar-se’ a um especialista inglês, Jonathan Weber, do Hospital de Saint Mary, que pretende descobrir o que tem Andrew de tão especial.

“O professor [Weber] disse-me que deve encontrar as resposta no sangue que foi analisado na Clínica Victoria, em Londres, onde fiz dois testes com resultados positivos ao VIH, seguidos de quatro com resultados negativos.” Andrew ofereceu-se para testes complementares àquelas análises. “Talvez seja necessário realizar mais exames para descobrir se há alguma coisa no meu sistema imunitário que deu cabo do vírus.”

Para o professor Jonathan Weber, investigador do Imperial College, o mais importante é voltar a analisar os primeiros testes, que deram positivo.

EFEITOS SOBRE O FÍGADO SUSPENDEM ENSAIO
Um dos ensaios clínicos relacionados com a nova terapêutica contra o VIH foi suspenso devido aos efeitos tóxicos sobre o fígado. Prosseguem entretanto outros dois, um deles envolvendo doentes internados em hospitais portugueses, na expectativa de, até ao final do próximo ano, comercializar um medicamento baseado nos mecanismos de resistência natural ao vírus.

A ideia é tirar partido de uma mutação genética que elimina o receptor (CCR5) do vírus, existente à superfície da célula. Trata-se pois de impedir a entrada do VIH. Os tratamentos actualmente disponíveis actuam de modo diverso. Os antiretrovirais mais conhecidos actuam bloqueando a reprodução do vírus no interior da célula e inibindo a divisão daquelas que já foram infectadas. Se pensarmos no vírus como uma chave e na célula como uma fechadura, a acção desenvolve-se dentro da fechadura.

Outro tipo de medicamentos actua no canhão da fechadura, tentando impedir a entrada e o movimento da chave. É o caso de um medicamento que evita a fusão do vírus na célula. Nesta analogia o CCR5 é o receptor de entrada do vírus na célula, ou seja, o próprio buraco da fechadura. O medicamento em ensaios clínicos actua a este nível, prévio a qualquer um dos indicados antes. Eliminando, grosso modo, o buraco da fechadura não há maneira de permitir ao vírus a entrada na célula.
(...)

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